Artigo de opinião escrito por Cristina Passas – Consultora

Agradeço o carinho dos leitores e ao Canal NTV pela confiança que sempre deposita nos meus trabalhos.

Dedico a minha tertúlia natalícia ao Território, ao meu pai e a todos os pais que subiram “as escadas da vida” com as filhas ao colo e a todas as Mães que fizeram de nós “Borboletas”!

O Conto que conta… O vidro embaciado! 

E assim desejo um Feliz e Santo Natal a todos os leitores e seguidores do CanalNTV! Cristina Passas 

O vidro está embaciado, já é de noite! Mas só são 17,30H! Pois, mais estamos em dezembro a poucos dias do Natal… Com o meu dedinho meio “engrenhado” desenho um Pai Natal… ainda na esperança que aquilo que a minha mãe disse-me seja uma mentira ou uma brincadeira… será mesmo que o Pai Natal não existe? Então como é que no dia 25 de dezembro de manhã há sempre uma boneca ao lado do presépio e carrinhos para os manos! Como? Se somos 5 manos! E o pai e a mãe estão sempre a falar que o dinheiro não chega para tudo… Acho que a mãe quer-me enganar… mas este ano juro que não vou dormir! Juro mesmo… por isso vou desenhar um Pai Natal no vidro para ele saber que estou à espera dele! Mas, também estou à espera do pai… é tarde, faz frio e ele está a demorar-se… 

– Mãe? Porquê que o Pai se demora tanto!??? 

– Não sei Borboleta, mas não te preocupes hoje é sexta-feira e podem precisar de arrumar as alfaias agrícolas, não te preocupes… anda ajudar-me… 

– Já vou… O meu nome não era Borboleta, mas era assim que todos em casa e na escola me tratavam, não sei bem porquê, mas eu gostava porque as borboletas são lindas, não são? E por ali me fiquei mais uns tempos, limpei o vidro embaciado do outro lado com a ponta da manga da camisola que a avó me tinha feito de lã quentinha e esborrachei o nariz de forma aos meus olhos penetraram pela escuridão e tentarem ver alguma coisa para o quintal ou tentar ouvir o barulho dos cascos do Firmino. 

Sim, o nosso jumento chamavasse Firmino porque é um cavalo muito firme dos seus passos e muito veloz. Mas não via nada, a não ser lá longe a linha, sim, a Linha do Tua … esperei mais um bocadinho e lá vi as luzes do comboio que, como todos os dias passava religiosamente às 18,00H, com sentido de Mirandela, Tua, Régua e depois ao Porto! Uma vez perguntei à Mãe: 

– Mãe, o que levam aquelas carruagens do fundo? E ela respondeu: mercadorias e alheiras! 

– Alheiras!!??? Iguais às nossas!!???

– Sim! Respondeu a mãe! 

– E porquê as alheiras vão de comboio para o Porto? Porque não as comem cá??? 

– Porque, na verdade Borboleta, um dia também tu vais voar e eu, no Natal, irei enviar-te alheiras, filhós, rabanadas e aletria, o melhor que tiver para onde o teu destino te tiver levado, sabes porquê? Porque um dia os filhos crescem e voam como as borboletas e nós, os pais por aqui ficámos e o melhor das nossas casas será sempre partilhado convosco. Não importa o lugar… 

– Então há muitas Borboletas que se vão embora da nossa aldeia e das outras? 

– Sim, quase todas, meu amor… quase todas… 

– Sim, mas assim um dia a nossa aldeia vai ficar só e triste… 

– Talvez, não te sei dizer… mas enquanto houver comboio há esperança!

Depois da lembrança daquela conversa, o meu espírito voltou-me a desinquietar! Como pode ser possível não existir o Pai Natal! E será verdade que se um dia o comboio não passar, a esperança vai acabar!!! Não! Nada disto pode ser! 

Mas de repente sinto um barulho, abstraio-me dos meus pensamentos, abro mais os meus olhitos negros para ver chegar o meu Pai! Que saudades, é certo que só não o via desde manhã, mas tinha muitas saudades… Abro a porta, e corro para o quintal à espera que ele meta o Firmino na loja e lhe dê de comer, para depois estender os meus bracitos para ele me pegar ao colo… o colo do meu pai é como uma fortaleza para a vida… 

E já ao colo, enlaço os meus braçitos com muita força à volta do seu pescoço e aperto-o muito, muito mesmo…porque um dia ouvi a avó dizer que “nós não ficamos cá para sempre”, não percebi muito bem mas desde esse dia, sempre que o meu pai se atrasa o meu coração bate mais forte até ao momento que o vejo e dá-me colo… 

Como sempre sobe as escadas comigo ao colo, sentámo-nos no “escano”, tira as botas e as meias que coloca ao lado da lareira para secarem durante a noite, e após se voltar a calçar, pega na “tanás”, aproxima as brasas e estende as mãos para as aquecer na lareira onde os potes de ferro já fervem com o jantar que a mãe começou a preparar… e depois sentou-me nos seus joelhos comme d´habitude e alegremente tertuliámos sobre o que foi o nosso dia… e só depois de apaziguar o meu coração pequenino é que peguei no banco, subi e colei-me à banca ao lado da minha mãe e com as minhas mãos pequeninas estiquei a massa das filhós e fiz 7 borboletas, todas com asas diferentes, para no dia de Natal oferecer uma a cada mano e ao pai e à mãe e comermos ao pequeno-almoço com uma caneca de leite com cacau. Sim, porque a mãe para o Natal preparava-nos leite com cacau, quentinho e docinho! 

Era o meu presente para a minha família! Eles adoravam, e eu mais ainda de os ver felizes! Não tínhamos muito para oferecer, mas ofereciamos tudo que tínhamos uns aos outros… … …

– Dr.a, está ouvir-nos?! Dr.a! 

Levanto os olhos, e olho de forma longitudinal para aquela mesa ministerial onde dezenas e dezenas de ministros já se sentaram e centenas de promessas por cumprir desde do 25 de Abril devem ter sido proferidas… 

– Desculpe, Dr.! Sim, estou a ouvir! Sim, peço desculpas, mas de facto momentaneamente o meu pensamento ausentou-se! Sabe porquê Sr. Ministro? 

O silêncio instalou-se em todos os presentes. 

– Não, Sr.a Dr.a, mas pode compartilhar connosco! 

– Sabe em que mês estamos! Dezembro, e faltam uns diaspara o Natal, certo? 

– Certo! Respondeu de forma monocórdica. 

– Todos aqui temos ou tivemos uma Mãe, certo? E continuei, é verdade que uma Mãe nunca mente certo?! Um dia num longínquo mês de dezembro, a minha saudosa Mãe disse-me que o Pai Natal não existia e que enquanto houvesse comboio haveria esperança para a nossa terra. E eu, na altura uma menina confinada nos Montes de Miguel Torga não acreditei na minha mãe! Nem que o Pai Natal não existia, nem que um dia deixaríamos de ter esperança, pois o comboio deixaria de passar e levar as alheiras para o Porto! Mas não é que é mesmo verdade! O Pai Natal não existe, apenas o Menino Jesus, para quem o credo cristão advoga e a esperança da nossa terra definha-se a cada ano que passa desde que o comboio deixou de passar em frente da casa dos meus pais! 

– Sabe qual o nosso posicionamento no ranking ferroviário ao nível europeu? Sabe sim! Nem vale a pena aborrecê-lo com estes dados estatísticos! Sabe quanta população a região perdeu? Sabe sim, nem vale a pena aborrecê-lo com números! 

– Sabe o quanto poderia impulsionar a economia regional se a Linha do Tua fosse efetivamente reativada, e o que isso poderia representar para o Comércio e para os agentes económicos de turísticos da região, com efeitos colaterais positivos? Isso tenho a certeza que já não sabe! E estou em querer que também não querem saber! 

– Mas Sr. Ministro não se preocupe não é só o Senhor, são todos e foram todos até ao dia de hoje! De que vale a pena a regionalização estar “proclamada” na Constituição da República Portuguesa se não passa de um “fait divers”para entreter as populações do Interior quando o momento político é oportuno e produzir centenas e centenas de relatório que ficam obsoletos antes de ser produzidos! Sim, porque a Era Industrial já foi, certo! Estamos na Era 4.0, na Era Digital! E a Constituição está por cumprir!

– Sr. Ministro se a minha mãe sábia e sensata estava certa em tudo, pensem que as borboletas continuam a voar para fora, e que efetivamente as nossas aldeias e vilas estão a ficar sós, tristes e as cidades desprovidas de serviços públicos! 

– Sabem Sr.s, Ministros! Não é um Desígnio do território, é uma escolha de “Lisboa”, isto é do poder central! É Natal, vou voltar a acreditar no Pai Natal, e a acreditar que alguém um dia com um rasgo de coragem desembacie o vidro do Poder Central para verem Portugal como um País por Inteiro!

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