Escavações arqueológicas recentes no sítio da Penascosa, no Vale do Côa, revelaram vestígios que comprovam a ocupação humana na região há mais de 26 mil anos. A descoberta inclui utensílios de pedra lascada, usados em atividades quotidianas e associados a fogueiras, reforçando a importância histórica e cultural deste local emblemático do Paleolítico Superior.
Este achado vem colmatar três décadas de investigação na tentativa de identificar acampamentos dos autores da arte rupestre que caracteriza o Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC). As características técnicas dos artefactos encontrados, como lamelas de sílex e outras rochas locais, indicam múltiplas estadias humanas ao longo do tempo.
O projeto de investigação que está na origem destas escavações, “Côa 3P: Paleogeografia, Paleoecologia e Paleontologia”, envolve equipas multidisciplinares de arqueologia e geociências, com a participação de investigadores e estudantes de várias instituições académicas. O trabalho no terreno, ainda em curso, inclui escavações, análise de solos e utilização de novas tecnologias para aprofundar o conhecimento sobre a ocupação humana na zona.
A Penascosa passa agora a ser, a par do sítio do Fariseu, um dos locais onde se confirma a coincidência entre vestígios de habitat e arte rupestre ao ar livre, um dado crucial para a compreensão dos comportamentos dos grupos humanos que habitaram a região. Além disso, as novas descobertas vão contribuir para datar com maior precisão a cronologia destas ocupações.
A relevância arqueológica do Vale do Côa é amplamente reconhecida. Desde a sua criação, em 1996, o PAVC passou de 190 para mais de 1.500 rochas com manifestações de arte rupestre identificadas, num ciclo artístico que se prolonga há cerca de 30 mil anos, sem interrupção. O local, classificado como Património Mundial pela UNESCO em 1998, recebe anualmente milhares de visitantes, estando sujeito a um limite de 15 mil entradas por ano para garantir a sua preservação.
O Parque ocupa uma área de 20 mil hectares e abrange os concelhos de Vila Nova de Foz Côa, Mêda, Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda, e Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, tornando-se uma das maiores galerias de arte rupestre ao ar livre do mundo. As novas evidências arqueológicas reforçam a importância deste património para a história da presença humana na Península Ibérica e para a memória futura das primeiras expressões artísticas da humanidade.
Jornalista: Vitória Botelho
Foto: Vale do Côa