Os “Factos vistos à Lupa” por André Pinção Lucas e Juliano Ventura – Uma parceria do Canal N com o Instituto +Liberdade
Na semana passada mostrámos como a falta de professores em Portugal é um problema estrutural, que se agravará até 2034 com a saída de dezenas de milhares de docentes. Hoje, olhemos para a formação de novos professores — e os números não são animadores.
Em 2023, Portugal foi o 3.º país da União Europeia onde menos professores se formaram, com apenas 40 novos diplomados por cada 100 mil habitantes. Pior só mesmo a Roménia e o Luxemburgo.
Este défice é especialmente grave quando sabemos que, nos próximos dez anos, cerca de 36 mil professores se irão aposentar e que já hoje muitas escolas têm dificuldade em assegurar todas as disciplinas. A matemática é simples: a torneira da formação abre pouco e o reservatório dos docentes em funções está prestes a esvaziar-se.

A comparação europeia é clara. Países como o Chipre, a Espanha ou a Irlanda formam todos os anos mais do quadruplo de professores por habitante do que Portugal. Não é, portanto, um problema inevitável — é um sinal de que estamos a falhar na capacidade de atrair jovens para a profissão docente.
As razões estão identificadas: falta de incentivos, condições de progressão pouco competitivas, precariedade prolongada e uma perceção generalizada de desvalorização social da carreira. Enquanto persistirem estes bloqueios, dificilmente veremos mais jovens escolherem este caminho.
Sem uma inversão urgente desta tendência, Portugal arrisca-se a entrar numa crise estrutural de recursos humanos no ensino. E uma crise desta natureza não se resolve com medidas avulsas: compromete a qualidade da educação, a inovação e a própria mobilidade social.
A falta de professores não é nova, mas a próxima década poderá transformá-la numa crise estrutural sem precedentes. O risco já não é apenas a gestão de horários e colocações: é a qualidade da educação e o futuro do país que estão em causa.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
15 de setembro de 2025