No próximo dia 29 de setembro assinala-se o Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar, e Portugal tem um papel de destaque na luta contra este problema global. A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), através da docente Ana Novo Barros, coordena o projeto europeu WASTELESS, uma iniciativa financiada pela União Europeia com um orçamento de 5,5 milhões de euros.
O WASTELESS tem como missão desenvolver ferramentas e metodologias digitais inovadoras para quantificar e monitorizar o desperdício alimentar em toda a cadeia de valor, da indústria ao consumidor, com o objetivo de reduzir em 20% as perdas alimentares na União Europeia. Com duração de três anos, em vigor desde 1 de janeiro de 2023, estava previsto terminar este ano, 31 de dezembro de 2025, contudo “foi prorrogado até maio de 2026”, segundo a docente.
Numa entrevista exclusiva ao Canal N, Ana Novo Barros descreveu detalhadamente o projeto:
“Este é um projeto europeu, que conta com a participação de 17 parceiros internacionais, e no qual nós nos propomos a tentar diminuir o desperdício alimentar. Nós trabalhamos já em uma análise detalhada de quatro cadeias de valor, que são quatro cadeias de valor críticas em termos de desperdício alimentar, que é a carne, o peixe, frutas e legumes e cereais.”
O WASTELESS foca-se na criação de soluções concretas para medir as perdas em cinco setores-chave: indústria, retalho, restauração, consumidores e um produto alimentar específico. Os dados recolhidos servem para definir uma metodologia comum que apoie políticas públicas e práticas empresariais sustentáveis.
A coordenadora do projeto WASTLESS, Ana Novo Barros, com a investigação a decorrer no Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD, menciona alguns dos dados que foram sido adquiridos ao longo da análise, assim como as metodologias aplicadas para chegarem a tais conclusões.
“Nós estamos a tentar e já conseguimos identificar os pontos críticos de perda ao longo do ciclo de produção e também da parte do consumo destas quatro cadeias de valor. Entretanto, já desenvolvemos protocolos digitais, desenvolvemos sensores inteligentes, no fundo para que consigamos fazer a monitorização em tempo real, e já foram estudados em estudos de caso e esses estudos de caso abrangem o consumidor, restaurantes, cantinas, hipermercados, grandes e Supermercados e no fundo, nós estamos a trabalhar com essas ferramentas que desenvolvemos, aplicando em estudos de caso.”
Além de combater o desperdício, o projeto visa promover a economia circular, aumentar a segurança alimentar e contribuir para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, alinhando-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, nomeadamente o ODS 12.3, que propõe reduzir para metade o desperdício alimentar até 2030. Na UTAD, foram implementadas várias alternativas que pretendem responder a este propósito:
“Estamos a desenvolver também uma caixa de ferramentas metodológicas, que no fundo, nos vai permitir ser aplicado às diferentes cadeias de produção. E já conseguimos também desenvolver indicadores de impacto ambiental e económico que nos mostram que a redução de 25% do desperdício alimentar nestes setores que eu falei, pode vir a gerar benefícios bastante significativos em termos de emissões de gases com efeito de estufa e custos de produção. Por isso, nós tentamos neste projeto, com os dados que já temos são no fundo, uma forma de criar uma oportunidade quer para a eficiência, quer para circularidade e sustentabilidade dos setores do sistema agro alimentar”.
A coordenação portuguesa deste projeto europeu representa um reconhecimento da capacidade científica da UTAD e uma oportunidade de impacto positivo para a região e para o país no combate a um dos maiores desafios ambientais e sociais da atualidade.
Jornalista: Vitória Botelho