O cenário político de Bragança sofreu esta semana um abalo inesperado. Ricardo Afonso Pinto, histórico militante do Partido Social Democrata (PSD) há 14 anos, anunciou a sua saída do partido e a integração no executivo municipal liderado pela presidente Isabel Ferreira, independente apoiada pelo Partido Socialista (PS).
O gesto, que surpreendeu muitos dentro e fora das estruturas locais, é justificado pelo próprio como um ato de “coragem e sentido de dever”, num momento em que diz ser preciso “estabilidade, pontes e diálogo verdadeiro” para o futuro do concelho.
“Há momentos na vida em que é preciso escolher entre o conforto da rotina e a coragem de agir. Hoje, escolhi agir”, escreveu Ricardo Afonso Pinto num texto intitulado “Por Bragança, pela estabilidade, pelo futuro”, divulgado nas suas redes sociais e enviado à redação do Canal N.
UMA DECISÃO COM PESO POLÍTICO E SIMBÓLICO
A decisão de Ricardo Afonso Pinto representa um realinhamento político significativo no panorama brigantino. Figura conhecida no PSD local, o agora vereador independente sempre se destacou pela proximidade às bases e pela ação social na comunidade, tendo contribuído para o reforço do partido na região ao longo da última década e meia.
No texto onde formaliza o afastamento, o ex-social-democrata sublinha que abandona o PSD “com respeito, gratidão e lealdade”, mas assegura manter “o mesmo espírito social-democrata” que sempre o guiou.
“Não o faço por vaidade nem por ambição. Faço-o por convicção, por dever e por amor à cidade que me viu crescer”, afirma.
A adesão ao executivo liderado por Isabel Ferreira, que, recorde-se, assumiu presidência da Câmara com uma vitoria histórica, é apresentada como uma decisão pessoal e independente, motivada pela vontade de contribuir para a estabilidade política e para a concretização de projetos estruturantes.
“AS CIDADES NÃO SE CONSTROEM COM TRINCHEIRAS”
Numa mensagem de tom conciliador, Ricardo Afonso Pinto defende que a política local deve ultrapassar barreiras partidárias e colocar o interesse do concelho acima das siglas.
“Acredito profundamente que as cidades não se constroem com trincheiras, mas com pontes, e que o tempo da política de muros deve dar lugar à política de diálogo e de resultados”, escreveu.
O novo vereador reforça ainda que não renega o passado no PSD, mas quer agora “servir de outro modo”, “livre de rótulos”, comprometendo-se apenas com o desenvolvimento socioeconómico de Bragança e com a melhoria da qualidade de vida da população.
REAÇÕES E LEITURAS NO TERRENO
A mudança apanhou de surpresa alguns setores do PSD brigantino, que veem na saída de Ricardo Afonso Pinto um sinal de descontentamento interno e de desgaste das lideranças locais.
Fontes próximas do partido admitem preocupação com o impacto simbólico da decisão, sobretudo pelo peso que o vereador tinha junto das bases e pela imagem de “homem de diálogo” que construíra.
Já junto do executivo socialista, a integração foi recebida como um reforço de credibilidade e de estabilidade política, num mandato que tem procurado equilibrar alianças e garantir governabilidade num contexto de maioria relativa.
“POR BRAGANÇA, PELA ESTABILIDADE E PELO FUTURO”
Com esta mudança, Isabel Ferreira reforça a sua base de apoio e ganha um aliado conhecido pela capacidade de mediação e pragmatismo político.
Ricardo Afonso Pinto, por sua vez, encerra um ciclo de 14 anos de militância partidária e inicia outro como vereador ao serviço de um projeto suprapartidário, focado, nas suas palavras, “na verdade e nos resultados”.
“Agora é tempo de servir de outro modo, livre de rótulos, mas preso a um só compromisso: o de trabalhar por Bragança, todos os dias, com verdade e com resultados.”
A política brigantina entra assim numa nova fase, onde a estabilidade e o diálogo parecem ser as palavras de ordem — ainda que o gesto do ex-social-democrata deixe feridas abertas num PSD que, até agora, dominava o panorama político do distrito.
A Redação,
Foto: DR



















