A Câmara de Ribeira de Pena submeteu a candidatura do linho de Cerva e Limões ao inventário nacional do património cultural imaterial, numa aposta assumida na preservação e valorização de uma das tradições mais marcantes do concelho do distrito de Vila Real.
“É uma identidade muito nossa”, sublinha o presidente do município, João Noronha, que destaca o papel decisivo das tecedeiras da União de Freguesias de Cerva e Limões na continuidade desta arte ancestral. É ali, ao som cadenciado dos teares, que resiste um saber transmitido de geração em geração.
O objetivo da candidatura é claro: proteger o ciclo completo do linho, da sementeira à tecelagem, e reforçar uma prática que, durante décadas, funcionou como complemento económico para famílias agrícolas e que, ainda hoje, garante sustento a várias casas.
Em Limões, a tradição mantém-se viva. A paisagem transforma-se em maio, quando os campos se tingem de azul, anunciando a floração do linho. A partir daí, cumpre-se o ritual: arrancar, secar, ripar, espadelar, fiar e, por fim, tecer o pano no tear.
Segundo o técnico superior da autarquia e responsável pela candidatura, Ricardo Carvalho, o processo submetido inclui “todos os passos” associados ao linho, técnicas, ferramentas, cantigas, rituais e até a Feira do Linho, criada em 1999. O trabalho de inventariação revela também a relevância histórica desta produção: já no século XVIII, as elites regionais procuravam em Limões tapeçarias e enxovais reconhecidos pela qualidade.
Depois de anos de declínio, o município assinala agora um renascimento. A cooperativa local de Limões envolve 17 artesãs, enquanto a cooperativa de Cerva reúne outras oito, um crescimento que Ricardo Carvalho atribui a ações concretas para evitar que a tradição desapareça. A artesã mais idosa, com 102 anos, continua a trabalhar no Museu do Linho, atraindo visitantes que testemunham ao vivo a arte dos teares.
O município acredita que a classificação poderá criar novas oportunidades económicas, desde a moda à decoração, e captar público e criadores interessados em materiais e técnicas tradicionais. Não é uma ambição descabida: em 2019, tecedeiras da Cooperativa de Artesãos Cervences colaboraram com o designer Christian Louboutin, produzindo franjas e linho ripado para a mala de luxo Portugaba, peça inspirada em artes tradicionais portuguesas.
Para 2026, a autarquia prepara o regresso do evento que cruzou o linho com a moda e que, segundo João Noronha, foi “uma aposta ganha”, contribuindo para projetar a região e captar novas atenções.
“A classificação pode dar ao linho de Cerva e Limões uma identidade reforçada, afirmá-lo pela qualidade e garantir às nossas tecedeiras o reconhecimento e o estímulo necessários para não abandonarem este trabalho”, afirma o autarca.
A candidatura integra o Plano de Ação Regional para a Cultura Norte 2030, da CCDR-Norte, e marca mais um passo na estratégia de valorização cultural do território.
A Redação com Lusa
Foto: DR



















