O Instituto do Património Cultural propôs ao Governo a classificação da Panificadora de Chaves como monumento de interesse público, reconhecendo o valor arquitetónico e cultural deste edifício industrial projetado pelo arquiteto e pintor Nadir Afonso. O anúncio foi publicado esta segunda-feira em Diário da República.
A proposta, assinada pelo presidente do conselho diretivo do Património Cultural – Instituto Público, João Soalheiro, segue no sentido de reforçar a proteção de um dos últimos testemunhos da obra arquitetónica de Nadir Afonso, natural de Chaves e figura maior da arte contemporânea portuguesa.
A intenção de classificar o edifício não é inédita. Em agosto de 2024, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) já tinha recomendado a sua salvaguarda, sublinhando tratar-se “de um imóvel de elevado interesse patrimonial e testemunho singular da arquitetura industrial modernista portuguesa”. A entidade destacou ainda a relevância do edifício enquanto expressão material da visão estética e funcionalista de Nadir Afonso, influenciada pelas escolas de Le Corbusier e Oscar Niemeyer, com quem o arquiteto chegou a colaborar.
Concluída em 1962, a panificadora incorpora elementos característicos da gramática modernista, como abóbadas, panos lisos, chaminés, coberturas inclinadas e muros curvos, numa composição que se articula harmoniosamente com o tecido urbano envolvente. Segundo a CCDR-N, o edifício “permanece como um dos melhores exemplos de arquitetura modernista em Trás-os-Montes, conservando um elevado grau de integridade e autenticidade”.
A proposta agora publicada em Diário da República abre um período de participação pública. Os interessados podem apresentar observações junto da Unidade de Cultura da CCDR-N, que dispõe de 15 dias úteis para emissão de parecer.
Este imóvel da freguesia de Santa Maria Maior já se encontrava “em vias de classificação”, o que conferiu proteção legal ao edifício e à sua zona envolvente, num raio de 50 metros. Contudo, a nova proposta reforça o objetivo de garantir a preservação definitiva de um património cuja relevância artística e histórica tem sido amplamente reconhecida.
O percurso da panificadora de Chaves contrasta com o destino do projeto congénere concebido por Nadir Afonso em Vila Real, construído em 1965. Apesar de ter estado igualmente em processo de classificação, o edifício acabou por ser demolido em 2020, depois de a antiga Direção-Geral do Património Cultural considerar que já não reunia condições para proteção. Em 2017 já tinham sido destruídas partes da sua fachada, comprometendo a integridade arquitetónica original.
Os edifícios de Chaves e Vila Real representam as derradeiras incursões de Nadir Afonso na arquitetura antes de se dedicar inteiramente à pintura, tornando a panificadora flaviense um testemunho raro e cada vez mais valioso da sua obra construída.
A Redação com Lusa
Foto: DR



















