Já não é a primeira vez que falo de assimetrias nestas colunas. A partir de janeiro de 2026, oito distritos portugueses arriscam ficar sem distribuição diária de jornais. Entre eles, o nosso. A VASP, empresa responsável por transportar a imprensa que chega às nossas mãos, anunciou que deixará de assegurar as rotas consideradas “insustentáveis”. E, como sempre, é o interior que paga a fatura do que o litoral já nem repara.

Mas não nos enganemos: isto não é apenas uma decisão empresarial. É um abalo político, social e democrático. É o sintoma visível de um país que continua a encolher para dentro do litoral, deixando vastas regiões relegadas para segundo plano, agora também no que toca à  informação.

Se deixarmos que esta suspensão avance, e apesar da existência de outros órgãos de comunicação (rádio, televisão), cria-se aqui um autêntico “deserto de notícias”. E onde não há notícias, não há escrutínio. Onde não há escrutínio, não há transparência. Onde não há transparência, a democracia local definha. Não é retórica: é a realidade nua e crua de qualquer território que perde o seu ecossistema informativo.

Por outro lado, a ausência da imprensa significa que as nossas histórias deixam de ser contadas. Que os nossos problemas deixam de ser conhecidos. Que as nossas autarquias ficam menos vigiadas. Ficamos mais isolados e menos informados, e as decisões que tomamos passam a ser feitas com menos conhecimento do que se passa para lá das nossas fronteiras administrativas. E mais grave ainda, os nossos cidadãos tornam-se reféns do que circula nas redes sociais, onde a informação verificada compete, quase sempre em desvantagem, com o ruído, a manipulação e o sensacionalismo.

O interior não pode aceitar, calado, que lhe cortem mais este serviço essencial. Não podemos aceitar quando nos fecham repartições. Não podemos aceitar quando nos tiram médicos. Não podemos aceitar agora que nos cortem o acesso ao jornal que garante que continuamos a fazer parte do país.

É por isso que este assunto não pode ser tratado como um simples problema logístico. É um problema político. Profundamente político. E quem vive, trabalha e constrói esta região deve exigi-lo sem hesitação.

As autoridades locais — Câmaras Municipais, Assembleias Municipais, Comunidades Intermunicipais — não podem assistir a este processo como meros espectadores. Devem, com urgência, encetar conversações formais com a VASP e pressionar o Governo para encontrar soluções antes de janeiro. Seja renegociando rotas, criando apoios específicos, ouintegrando este serviço em mecanismos públicos de coesão territorial. O que não pode acontecer é… NADA.

O interior já aprendeu demasiado bem o que significa ficar sem voz. Agora arrisca ficar também sem notícias. E um território sem notícias é um território sem futuro.

É tempo de agir antes que a decisão de uma empresa dite o desaparecimento silencioso de uma parte inteira do país.

Artigo escrito por José Martinho

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