A construção daquele que a Iberdrola apresenta como o “maior parque eólico de Portugal” está a transformar o quotidiano de Salto, no concelho de Montalegre. Restaurantes, pastelarias, cafés e alojamentos registam um movimento incomum, impulsionado pelas dezenas de trabalhadores instalados na freguesia, muitos deles a viver provisoriamente em cerca de 50 contentores montados na aldeia de Corva.
A pequena localidade de Salto, com cerca de 60 a 70 habitantes, quase duplicou a população flutuante. O aumento sente-se sobretudo ao fim de semana, conta José Barroso, proprietário de uma mercearia e café: “Durante a semana estão todos na obra. Mas ao fim de semana há sempre mais movimento”.
O investimento de 350 milhões de euros prevê a instalação de 38 aerogeradores capazes de produzir energia suficiente para abastecer 128 mil habitações. Em pico de obra, a Iberdrola estima criar 700 empregos diretos. A construção estende-se até ao terceiro trimestre de 2026 e representa o primeiro projeto nacional a combinar produção eólica e hídrica.
Na pastelaria Doce Maria, Vitória Martins passou a abrir uma hora mais cedo para servir os pequenos-almoços aos trabalhadores. “O número de clientes duplicou. Outubro e novembro costumavam ser meses fracos, mas este ano foram muito melhores”, afirma. Situação semelhante vive-se no café restaurante Ribeiro, onde agora se servem cerca de 40 refeições diárias. “Se não fossem eles, teríamos muito menos movimento”, sublinha a proprietária, Alexandra Ribeiro.
O impacto também se nota na procura por alojamento, com casas e quartos arrendados para acolher trabalhadores. E multiplica-se nas queixas sobre os condicionamentos de trânsito provocados pelo transporte das pás dos aerogeradores, estruturas de 85 metros que obrigam a longas esperas na estrada entre Cabeceiras de Basto e Póvoa de Lanhoso (via Salto). A empresa afixou avisos nos estabelecimentos, alertando para “condicionamentos de trânsito de caráter temporal”.
A Iberdrola prevê concluir o transporte de todo o material até ao final do primeiro trimestre de 2026. Mais de 110 pás chegarão através do porto de Aveiro, deslocando-se depois por estrada com recurso ao sistema blade lifter, que permite rodar cada pá até 60 graus, facilitando curvas apertadas e desníveis das vias.
O Parque Eólico do Tâmega, composto pelos parques Tâmega Norte e Tâmega Sul, estende-se pelos concelhos de Montalegre, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar, no distrito de Vila Real, e Cabeceiras de Basto, no distrito de Braga. O projeto recebeu em 2023 uma Declaração de Impacte Ambiental favorável condicionada, levando à redução do número de aerogeradores inicialmente previstos (de 60 para 38). A empresa compromete-se agora a monitorizar de forma contínua os sistemas ecológicos, incluindo avifauna, flora, habitats e património arqueológico.
Enquanto a megaobra avança, Salto vive uma “bolha” de dinamismo rara nesta época do ano. Entre cafés mais cheios, novas rotinas e estradas temporariamente congestionadas, a aldeia vai sentindo na prática o peso económico e logístico do maior parque eólico alguma vez construído no país.
A Redação com Lusa
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