A presidente da Câmara Municipal de Bragança manifestou preocupação com a redução significativa do número de médicos internos colocados na Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE), situação confirmada esta semana pela própria instituição, e apontou responsabilidades ao Governo, acusando-o de reforçar as vagas nos hospitais do litoral em detrimento das unidades do interior.
A ULSNE disponibiliza atualmente 46 vagas para médicos internos de formação geral, mas apenas 11 foram ocupadas para o ano de 2026. A autarca Isabel Ferreira considerou que esta realidade resulta de uma opção política que tem efeitos diretos na atratividade dos hospitais periféricos.
“Quando se aumentam as vagas nos hospitais centrais, diminui-se inevitavelmente a preferência dos jovens médicos pelos hospitais do interior. Este efeito acaba por penalizar territórios como Bragança, que ficam com menos internos e, consequentemente, com menos hipóteses de fixar médicos no futuro”, afirmou.
Os dados confirmados pela ULSNE revelam uma tendência de decréscimo contínuo: em 2024 a instituição recebeu 38 médicos internos, em 2025 esse número desceu para 26 e, para 2026, ficará reduzido a apenas 11.
A Unidade Local de Saúde do Nordeste sublinhou, contudo, que a definição e gestão do número de vagas a nível nacional é da exclusiva responsabilidade da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), organismo tutelado pelo Ministério da Saúde.
De acordo com os mapas oficiais de vagas, houve um aumento global de 176 lugares entre 2025 e 2026, sobretudo nas unidades locais de saúde do Norte, Centro e da Área Metropolitana de Lisboa e Vale do Tejo. No Norte, destacam-se os aumentos em Braga, Alto Ave, São António e São João. A ULS do Nordeste e a de Trás-os-Montes e Alto Douro mantiveram o mesmo número de vagas, enquanto Gaia/Espinho perdeu uma.
Para Isabel Ferreira, este desequilíbrio agrava as assimetrias territoriais e exige “medidas de incentivo positivo” dirigidas ao interior. “Sem políticas diferenciadas será muito difícil inverter o fosso entre litoral e interior. Se há aumento de vagas, deveriam ser criadas prioritariamente nos territórios do interior”, defendeu.
A autarca rejeitou ainda a ideia de que os hospitais do interior não tenham capacidade formativa. “Estão preparados para formar médicos e oferecer especialidades. E sabemos que quem faz o internato em Bragança tem maior probabilidade de aqui permanecer”, sublinhou.
Também a ULSNE, que integra os hospitais de Bragança, Mirandela e Macedo de Cavaleiros, garantiu estar empenhada em criar condições clínicas, pedagógicas e laborais que tornem a região mais atrativa para os recém-licenciados em Medicina, defendendo que a redução no número de internos deve ser analisada pelas entidades competentes.
A Redação com Lusa
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