A notícia da morte de Clara Pinto Correia em casa, sozinha, tem chocado o país. Porque era uma figura pública. Mas quantas Claras com outro nome morrem, todos os dias, nas mesmas circunstâncias, sem que ninguém dê por isso ? 

Com efeito, há quem morra sozinho porque quer. E há quem morra sozinho porque ninguém quer saber. Entre estes dois extremos vive a maior parte de nós, num território cinzento onde a solidão não é escolha nem acidente, é um processo. Silencioso, quase sempre impercetível, mas constante.

A verdade é que ninguém chega à solidão final de um dia para o outro. É um caminho feito de pequenos afastamentos, de mensagens que não se enviam, de visitas que se adiam, de ausências que se normalizam. Quando damos por isso, já não há quem estranhe o nosso silêncio, e isso é talvez o mais triste de tudo: ter silêncio suficiente para não fazer falta a ninguém.

Alguns afastam-se porque o mundo lhes pesou demasiado. Preferem a autossuficiência ao risco de serem magoados outra vez. Outros habituaram-se a viver sozinhos, e a porta que um dia se fechou para descansar acaba por nunca mais ser aberta. Há também quem se esconda por vergonha. Da idade, do corpo, da vida que não saiu como tinham imaginado. E há os que, simplesmente, não sabem como pedir companhia. Quem é que nos ensinou isso?

Mas não é justo pôr tudo nos ombros de quem desaparece. Há também a solidão imposta pelos outros, por nós. Vivemos tão cheios de pressas, tão carregados de reuniões, ecrãs e obrigações, que deixamos de reparar nos pequenos sinais de quem está a ficar para trás. Confiamos que “alguém” há-de olhar por aquela pessoa, sem percebermos que esse “alguém” nunca aparece.

E depois há o que a sociedade faz para ajudar, ou, na verdade, o que deixa de fazer. Construímos cidades onde cada um habita na sua ilha. Transformámos a autonomia num troféu, como se depender de alguém fosse uma humilhação. Fizemos do envelhecimento um lugar de sombra, onde se colocam aqueles que já não produzem, já não brilham, já não “têm utilidade”.

Assim, morrer sozinho já não é um desvio estatístico. É um sintoma. Um aviso. Uma linha vermelha que atravessa a história de pessoas que, em algum momento, estiveram rodeadas de gente e, ainda assim, nunca verdadeiramente acompanhadas. A solidão extrema, aquela que termina em silêncio absoluto, não pertence só a quem parte. É também um retrato de quem ficou, da nossa incapacidade de cuidar, de reparar, de perguntar, de insistir.

Talvez o verdadeiro drama não seja morrer sozinho. Talvez seja o facto de isso já não nos surpreender. E é aqui que o meu texto se cala, mas o aviso fica: a proximidade não é presença. E conhecidos, por muitos que sejam, nunca substituem amigos.

O resto depende de nós. Sempre dependeu.

Artigo escrito por José Martinho

Banner Elisabete Fiseoterapia
Dizeres Populares BIG MAC VAI NUM AI Mirandela Braganca 730x90px
Design sem nome (5)
Dizeres Populares BATATAS TAO ESTALADICAS Mirandela Braganca 730x90px
banner canal n
IMG_9798
Alheiras Angelina
Dizeres Populares TASTY ARREGUILAR OS OLHOS Mirandela Braganca 730x90px
Artigo anteriorMIRANDELA: CONDUTOR DE 89 ANOS DETIDO POR CONDUÇÃO PERIGOSA NA A4
Próximo artigoFESTIVAL GASTRONÓMICO DO RANCHO DE MIRANDELA REGRESSA EM JANEIRO