Os apicultores transmontanos queixam-se da falta de apoios à atividade, para fazer face à seca e às condições climáticas.

O descontentamento foi avançado pelo presidente da Cooperativa dos Produtores de Mel da Terra Quente e dos Frutos Secos, à margem da tertúlia “o clico da biodiversidade e a sustentabilidade da apicultura”, integrada na semana da biodiversidade, que decorreu na semana passada em Mirandela.

José Domingos Carneiro refere que não “há qualquer tipo de apoio à produção” e que está a tornar-se “insustentável o apicultor manter a atividade”.

Segundo o presidente da cooperativa, os apicultores já têm necessidade de colocar na atividade o rendimento de anos transatos. Mas remata que “não há ninguém que continue a atividade com prejuízos”.

“Por isso sentimos necessidade de contactar o município, explicar o nosso problema. Foi criado um grupo de trabalho e chegou-se a um acordo, onde seria definido um determinado montante por colmeia, para pessoas com residência no concelho, com apiários”, explicou.

Recorde-se que, a 22 de dezembro, a Câmara Municipal de Mirandela, através do Serviço de Veterinária, reuniu com as Organizações de Agricultores sediadas no concelho, no dia 11 de janeiro, no Salão Nobre do Paço dos Távoras, para debater e esclarecer as regras do Regulamento de Concessão de Apoio Financeiro Destinado ao Fomento da Produção Pecuária do município de Mirandela, delineando uma estratégia de facilitação dos procedimentos para acesso a este apoio municipal dirigido aos produtores pecuários.

Através deste Regulamento, aprovado no ano de 2021, a autarquia já atribuiu aos criadores do concelho o valor total de cerca de 5.200 euros, destinados a apoiar os custos associados à sanidade dos efetivos pecuários, encontrando-se ainda em análise, para decisão, diversos processos entregues posteriormente.

Mas os apicultores pediram uma alteração a este regulamento, de forma a serem incluídos, fixando um apoio também para apicultora por colmeia. A autarca diz compreender esta necessidade e por isso “é uma questão que está a ser analisada, porque tem um impacto orçamental e portanto vamos ver se o conseguimos incluir no próximo ano, no orçamento municipal para 2024”, garante Júlia Rodrigues.
“Há também vontade política para considerar a apicultura uma atividade sem terra, ou seja, tem de ser georreferênciada, sem ser obrigatório ter os dois hectares por colmeia, como é exigido” nas medidas agro-ambientais.

De ano para ano a quebra de produção de mel tem sido bastante significativa. “Nós em anos normais, aqui na Terra Quente, andava nos 20 a 30 quilos por colmeia, há três anos atrás nos oito quilos, e este ano que passou, uma média de três quilos por colmeia”, adianta José Carneiro, reforçando que “para ser rentável teria de se fazer no mínimo 10 quilos. Com três quilos estamos a pagar para trabalhar”.

Bernardete Valente, completa 82 anos no mês de agosto, é apicultora em Torre de Moncorvo, e conta que já teve, ela própria a tratar 345 colmeias, mas agora tem menos porque nos últimos dois anos morreram. Garante que a situação na apicultura “esta muito má” e que no terreno já nada é igual.

Jornalista: Rita Teixeira

Foto: Arquivo/Canal N

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