Artigo escrito por Lara Torrado – Jornalista

Bola Doce Mirandesa… Para quem nunca ouviu este nome, pode soar curioso, até misterioso. “Afinal, o que é isso?”, perguntam vocês. Pois bem, deixem-me esclarecer.

A gastronomia em Portugal é rica em tradições e sabores únicos, e em Trás-os-Montes não poderia ser diferente, especialmente em Miranda do Douro. Entre os doces que se destacam, a Bola Doce ocupa um lugar especial no coração dos mirandeses, como é o meu caso.

Com uma textura crocante e doce, este produto é um convite irresistível, especialmente para os amantes de canela. A Bola Doce é um pedaço de história e um passaporte para as memórias das festas em família.

Na minha casa, a tradição é cuidadosamente preservada pela minha querida avó materna, Felisbela Fernandes, que todos os anos faz questão de preparar esta iguaria para a ceia de Natal. E que sorte a minha! Estão a imaginar a frustração de olhar para a mesa de sobremesas e não saborear nada? Essa seria a minha realidade se a bola doce não estivesse presente, pois não sou fã de aletria, arroz doce, rabanadas ou até sonhos. Vá, podem chamar-me esquisita, eu deixo, mas só porque é Natal e sinto-me generosa.

Mas continuando…

Agora, pensando bem, acho que a minha avó faz isto para me agradar. Eu não me estou a queixar, claro. Na verdade, o resto da família agradece- mesmo os que dizem estar cheios encontram sempre espaço para uma fatia.

A Bola Doce Mirandesa tem as suas raízes profundamente vincadas nas tradições locais, e a receita tem passado de geração em geração, com cada família a acrescentar o seu toque especial. 

Este doce é feito com ingredientes simples, mas o segredo está na preparação e no amor com que é confecionado. Ao longo do tempo, a popularidade da bola doce espalhou-se entre os habitantes de Miranda do Douro e até pelas regiões vizinhas. Hoje, é um doce que se destaca não só na quadra natalícia mas também na Páscoa, e já há opções para quem não é apreciador de canela (estes sim são esquisitos!), como chocolate ou fruta, como a maçã.

Na minha família, e acredito que em muitas outras com raízes mirandesas, a bola doce não é apenas uma sobremesa. Ela representa memórias de tempos passados, de reuniões familiares e de celebrações especiais. 

Preparar a bola doce é mais do que seguir uma receita: é um ato de preservação de um pedaço da nossa identidade, uma forma de celebrar a história e a cultura da nossa terra.

A BOLA DOCE E A BISAVÓ

A minha bisavó, a saudosa “manda-chuva” da família, é a personificação da Bola Doce: simples, mas absolutamente única. Tal como a receita que exige paciência e um toque especial em cada detalhe, a minha bisavó sabia como trazer o melhor de nós. Era firme como a crosta dourada do doce, às vezes teimosa e direta de mais no que dizia, mas no fundo, tinha um coração doce.

Tal como a Bola Doce não permite pressa na sua confeção, a minha bisavó vivia num ritmo próprio. Cada gesto, cada palavra, era carregado de amor e cuidado. A diferença é que, ao contrário da bola doce, a minha bisavó não pode ser recriada. Com a sua partida, ficou um vazio que nem a mais perfeita fatia de Bola Doce consegue preencher.

Lembro-me bem das tardes na casa da minha avó antes do Natal. A cozinha transformava-se numa espécie de fábrica mágica. Eu, a minha avó, a minha madrinha, e as minhas primas, Daniela e Andreia, todas juntas, trabalhávamos sob a supervisão rigorosa da bisavó. Era uma orquestra desorganizada e barulhenta, onde o ingrediente principal, na verdade, era o amor.

Mas o tempo, tal como uma fornada de Bola Doce, não espera por ninguém. Hoje, cada uma de nós está espalhada: eu em Mirandela, a minha madrinha em França, as minhas primas no Porto. E a nossa “manda-chuva”, bem, mudou de morada de forma definitiva.

Ainda assim, cada fatia de Bola Doce traz consigo um pedaço de tudo isso: da crocância da sua firmeza à doçura escondida no seu interior, tal como a minha bisavó. Uma mordida e lá está ela, em cada memória, em cada cheiro, em cada gargalhada que ecoa em silêncio no fundo da minha mente.

Afinal, a Bola Doce não é apenas uma sobremesa. É um laço que nos une ao passado, um pedacinho de quem somos e de quem sempre seremos, enquanto houver alguém para amassar, esticar e polvilhar este doce com amor.

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