A mulher de 52 anos acusada do crime de homicídio qualificado pela morte do filho, autista, de 17 anos, no Verão de 2020, em Cabanelas (Mirandela), afogando-o num poço, não resistiu ao teor de alguns depoimentos e a alguns factos que lhe são imputados na acusação, como o relato de médicos dando conta que Fátima nunca aceitou o disgnóstico de autismo do filho e que sempre terá demonstrado resistência à prescrição da medicação.

Foi com a voz embargada que garantiu ao tribunal: “Amei muito o meu filho e sempre lhe dei a medicação. O que os médicos dizem é mentira”, disse. “Não desejo a ninguém aquilo que vivi. Foi um inferno, porque o meu filho precisava de mim a toda a hora, só conseguia comer porque de resto era como se fosse um bebé e não tive o apoio de ninguém, muito menos do pai”, lamentou.

A situação começou a ficar pior, em março de 2020, após o encerramento da escola que o Eduardo frequentava, devido à pandemia. “Começou a ser mais violento e algumas vezes deitou-me as mãos ao pescoço. A medicação já não fazia efeito e não sabia mais o que fazer”, contou.

Questionada pelo juiz presidente sobre o que aconteceu no dia 6 de julho de 2020 ano, Fátima confessou: “Matei o meu filho, mas não foi nada premeditado”, contrariando o que sustenta a acusação apoiada no relatório da autópsia que dá conta que o Eduardo terá tomado um anitipsicótico em “dose de cavalo”, expressão utilizada pelo Procurador da República.

“Depois do que fiz, a minha intenção era suicidar-me e ainda hoje me arrependo de o não ter feito e não sei se algum dia não o farei”, afirmou. Fátima alega que a ideia foi levar o Eduardo para uma caminhada para o tirar de casa. “Preparei um lanche com bananas e uma bola de ovos e fomos ver as oliveiras”. Chegados ao local, onde existia um poço, Fátima referiu que o filho começou a ficar agressivo. “Deu-me um pontapé nas pernas e uma bofetada. Ainda consegui dar-lhe a medicação, mas acabamos por nos empurrar um ao outro até que o atirei para dentro do poço. Bateu com a cabeça no outro lado da parede e perdeu os sentidos”, descreveu.

Confrontada com os dados da acusação, que quando se apercebeu de que o filho se mantinha à tona da água, não hesitou em descer e, com as mãos e os pés, afogou-o, Fátima negou. “Telefonei ao meu primo, disse-lhe que tinha morto o Eduardo e que também queria morrer, mas ele convenceu-me a não o fazer”, disse. 

“Se fosse hoje, tinha chamado o 112 para o levarem numa camisa de forças”, ao que o juiz presidente perguntou porque não o fez na altura. “Estava muito descompensada com o acumular de tantas coisas. Agora estou a ser medicada e estou mais controlada”, respondeu.

Fátima está indiciada do crime de homicídio qualificado, com uma moldura penal que vai dos 12 aos 25 anos de prisão.

A próxima sessão do julgamento foi agendada para o dia 22 de junho.

Jornalista: Fernando Pires 

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