Os “Factos vistos à Lupa” por André Pinção Lucas e Juliano Ventura – Uma parceria do Canal N com o Instituto +Liberdade
Frequentar o ensino superior em Portugal continua a ser um enorme esforço financeiro para milhares de estudantes e famílias, sobretudo para quem estuda fora da sua cidade de origem. Segundo dados da CNN, com base no Observatório do Alojamento Estudantil, um estudante deslocado gasta, em média, 835€ por mês — sendo que apenas 8% desse valor corresponde a propinas.
Ou seja, 92% das despesas mensais têm outras origens. O alojamento (47,6%) e a alimentação (20,6%) dominam o orçamento e, em conjunto, representam mais de dois terços dos custos totais. Esta realidade torna evidente que o problema central não são as propinas, mas sim o custo de vida — especialmente nas grandes cidades universitárias, onde o alojamento é escasso e cada vez mais inacessível para muitos jovens.
Dados do Instituto +Liberdade mostram que, apesar da retórica política focada na gratuitidade do ensino superior, os custos indiretos continuam a criar barreiras reais à igualdade de oportunidades. Estudantes provenientes de contextos socioeconómicos mais frágeis têm de enfrentar custos fixos incomportáveis — muitas vezes superiores ao rendimento disponível das famílias.

Nesse sentido, apoios sociais direcionados e robustos para estudantes deslocados — incluindo subsídios de alojamento, alimentação e transportes — seriam medidas muito mais eficazes e justas do que a eliminação cega das propinas. Esta última beneficiaria de forma igual todas as classes sociais, inclusive os que mais facilmente já acedem ao ensino superior, sem resolver os principais entraves à equidade.
Promover a justiça social no acesso ao ensino superior exige mais do que palavras: exige prioridades bem definidas, baseadas em dados e orientadas para quem mais precisa.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
22 de setembro de 2025