Artigo escrito por Filipe Alves- técnico de Marketing

A Fogueira do Galo é uma tradição enraizada na cidade de Miranda do Douro, no norte de Portugal. Esta tradição é uma das mais emblemáticas da região e tem um enorme peso cultural, sendo um dos momentos altos das festividades populares da cidade na época natalícia.

A História da Fogueira do Galo

A história da Fogueira do Galo remonta a tempos imemoriais, sendo considerada uma manifestação de devoção e de preservação de uma identidade comunitária. A tradição está ativamente ligada à simbologia do fogo, que tem um papel ritualístico em diversas culturas, representando purificação, renovação e proteção. O galo simboliza a renovação da vida e o ciclo da natureza, sendo um animal com uma presença significativa na mitologia popular.

A fogueira e o convívio é organizado por mordomos elegidos a cada ano, pela juventude mirandesa, do sexo masculino, que ainda não tenha contraído matrimónio, já que muitos começam desde tenra idade a puxar o carro de bois mais pequeno, e assim vão crescendo de uma carroça para a outra, uns vêm, uns ficam e outros vão, os que se casam, para de 10 em 10 anos puxar o carro da Fogueira do Decénio, que também tem muita história. Até porque, para muitos, este é o momento ideal para fazer a transição de um carro para outro.

A Tradição da Fogueira

A Fogueira do Galo começa sempre na madrugada do dia de Consoada, a 24 de dezembro, uma data que marca o convívio entre famílias.

Os jovens mirandeses partem do “Bar O Cartolinha”, após comer o caldo, acompanhados do seu farnel, para o monte, para cortar, carregar e transportar a lenha, nos típicos carros de bois. Depois dos carros carregados, por volta da hora de almoço, faz-se uma pausa para saborear os tradicionais petiscos que compõem o farnel: “punheta de bacalhau”, alheiras, chouriças, presunto e carne assada, acompanhado de pão e vinho tinto.

Durante a tarde, a população de Miranda do Douro reúne-se nas ruas, para ouvir o som característico do chiar dos carros de bois, puxados pelos “rapazes mirandeses” que se ouve a longa distância, entre cânticos natalícios com uma versão mais explícita, acompanhados de artistas musicais mirandeses.

A terra mirandesa torna-se num espetáculo visual e auditivo muito autêntico, que se faz ouvir e sentir pela cidade a dentro, passando pela praça até ao adro da Sé Catedral de Miranda do Douro, ponto de encontro para a descarga da lenha dos carros diretamente para a fogueira e logo depois fazer a tradicional fotografia com os rapazes da fogueira, nas escadas da Sé.

Por volta das 19h00 do dia de Consoada, acendem a fogueira, com muita festa, à mistura. À medida que o fogo vai subindo, a cidade inteira é envolta em uma atmosfera de alegria e celebração. A fogueira é alimentada com troncos e madeira, e a chama crescente simboliza a vitória da luz sobre a escuridão e a renovação das energias da natureza.

Ritual e Festividades

Além da fogueira, a festa é marcada por outros rituais típicos.

Após as ditas praxes deste dia, muito característico pelas “barrelas”, que se poderá considerar como uma limpeza com terra e vinho tinto às partes íntimas dos jovens, os quais os mais velhos arrancam as cuecas aos mais novos e prendem-nas aos ramos dos troncos que trazem nos carros, que logo depois são queimadas na fogueira que arde noites inteiras até ao Ano Novo.

As pessoas participam com a tradicional dança de pauliteiros, à chegada dos carros às escadas da Sé Catedral, acompanhados de música, especialmente com os instrumentos típicos da região, como a gaita-de-fole e o tambor, e desfrutam de comidas típicas e bebidas locais. Entre os pratos mais tradicionais feitos durante estes dias à fogueira, podem encontrar, casualmente alguém a assar uma chouriça, uma alheira, enquanto bebem uma cerveja ou um vinho do Porto, que são partilhados com familiares, amigos e visitantes.

Na noite do dia 25 de dezembro, dia de Natal, à meia-noite, tocam os sinos, enquanto a fogueira arde, dá-se início à Missa do Galo, aqui toda a população comparece nesta missa, para ver a fogueira, o presépio, “beijar o menino” e entretanto ouvir os rapazes da fogueira cantar as interessantes versões das tradicionais canções do “beijai o menino”, para os mais novos pode ser explícito, mas torna um momento hilariante desta tradição.

O Sentido Cultural e Social

A Fogueira do Galo não é apenas um evento religioso ou de celebração popular, mas também uma forte expressão de identidade local. Durante a festa, é comum a união de várias gerações, desde as crianças até aos mais velhos, que participam de forma ativa nas celebrações. O momento da construção da fogueira e o “acender” da fogueira, de forma tão discreta são frequentemente vistos como uma oportunidade para o reforço dos laços comunitários, para partilha de histórias e para a transmissão de saberes e tradições entre as diferentes gerações.

A festa também tem uma dimensão turística crescente, com visitantes de outras regiões e até de outros países a participarem das celebrações, que procuram conhecer mais sobre a rica cultura e as tradições da região do Douro.

Conclusão

A Fogueira do Galo de Miranda do Douro é uma das mais antigas e encantadoras tradições do Norte de Portugal, representando a união da comunidade, a celebração da cultura e tradições mirandesas, bem como, a vivência de um ciclo de renovação e fé. Ao longo dos séculos, a tradição tem sido preservada e adaptada, mantendo-se um evento com elevado significado para os habitantes de Miranda do Douro, na época natalícia, e para todos aqueles que, de alguma forma, participam da sua festa vibrante e cheia de vida.

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