Os habitantes da aldeia de Vale de Juncal, no concelho de Mirandela, dizem estar fartos das consecutivas falhas no abastecimento de água naquela aldeia anexa da freguesia de Abambres e pedem uma solução definitiva para um problema que se arrasta há vários anos, mas que o presidente da junta assegura que tem vindo a agravar-se desde 2018.

“É a consequência do crescimento das duas aldeias que são servidas pelo mesmo reservatório, que são Vale de Juncal e Contins, na freguesia de Carvalhais. Ainda em 2022, houve habitantes que estiveram cerca de um mês que, ou não tinham água ou então não tinha pressão suficiente para fazer funcionar os aparelhos simples como um esquentador ou uma máquina de lavar. Foi um ano caótico”, diz José Cabanas.

O ano passado, o depósito de água foi substituído por outro, mas não resolveu o problema. E este ano, a falta de água até chegou mais cedo do que o habitual. “Bastou este ano, haver um ligeiro aumento da temperatura e um aumento da população, durante a Páscoa, com a vinda de gente que veio visitar as famílias ou que só vêm cá ao fim-de-semana, e as falhas de água registaram-se novamente e o verão ainda nem começou. Já são três ou quatro vezes. A última delas aconteceu no fim-de-semana de 1 de maio, em que houve casas sem água durante três dias, e a situação ainda foi amenizada com a vinda dos bombeiros que com camiões cisterna por quatro vezes”, afirma.

O autarca eleito por um movimento independente diz que tem vindo a reportar esta preocupação ao executivo do Município de Mirandela, desde outubro de 2018, e em sessões da Assembleia Municipal, mas como o problema persiste José Cabanas convocou a população para uma reunião protesto, este domingo à tarde, que teve a adesão de dezenas de habitantes descontentes com a constante falta de água.

“Chegar a casa e não correr água na torneira é desagradável e é uma situação recorrente nos últimos anos e já aconteceu várias vezes este ano e ninguém resolve nada. Não se compreende, até porque a água paga-se muito cara, ainda agora houve um aumento de taxas, a fatura é enorme e passados anos e anos nisto”, lamenta Alcides Santos.

“Chega a esta altura é sempre isto. Andam aí os bombeiros com a cisterna, falta a água várias vezes as máquinas deixam de funcionar e agora com a chegada de alguns emigrantes, há mais consumo e está sempre a falhar. Pois temos de ir à câmara e a presidente tem de nos ouvir e só assim é que lá vamos. Dá a impressão que só fazendo barulho é que a gente ganha alguma coisa. Há tanto tempo que já temos este problema e ninguém resolver. Parece que há falta de controlo”, sustenta Armindo Pires, outro habitante.

O protesto teve a solidariedade do presidente da junta de freguesia de Carvalhais, já que Contins, aldeia anexa, também está relacionada com esta questão. “Embora a falta de água não seja tão frequente nem tão abrangente, mas quando falta em Vale de Juncal, há sempre três ou quatro casas em Contins que também ficam sem água durante três dias, o que é lamentável nos dias de hoje, é um bem essencial e as pessoas são idosas que trabalham no campo. Estamos aqui para defender os interesses da população”, conta Nélson Teixeira.

Quem também apareceu na reunião protesto, foi o Vereador da Câmara, Vítor Correia, que adiantou que a solução vai passar pelo abastecimento parcial da aldeia de Contins a partir de uma conduta que se encontra junto à Quinta do Valongo, propriedade da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, que diz já ter a devida autorização. “As duas localidades estão a ser abastecidas por um reservatório aqui de Vale de Juncal e vamos passar a dividir por dois pontos. Vamos fazer abastecimento de parte da população de Contins, dos que residem na zona mais baixa, através de uma conduta de Mirandela, para reduzir o consumo da conduta atual. Também, até aqui ainda estávamos com a pressão do Inverno e as Águas do Norte já aumentaram a pressão e já estamos com a pressão do Verão”, afirma.

Apesar de não se comprometer com datas para a sua concretização, sempre foi dizendo que espera que possa acontecer até ao final de junho.

Ainda assim, o presidente da junta de freguesia de Abambres não está convencido que essa solução vá resolver o problema em definitivo. “Não temos conhecimento que essa solução seja fundamentada em algum estudo. Porque se for mais uma solução de cosmética, então não podemos aguentar mais, têm de nos provar que vai ser uma solução definitiva, porque cinco anos já deu para fazer muitos estudos e pensar em muitas soluções e saber de onde vem o problema”, refere José Cabanas.

Mas, Vítor Correia, acredita que “a situação fica resolvida, porque se estamos a falar que cerca de 80 por cento da população de Contins passa a ser abastecida por outra conduta onde não tem havido falha de água, à partida vai ficar resolvida a questão”. Ainda assim, adianta que será reabilitado um segundo depósito para salvaguardar possíveis problemas com o atual. “Como o novo depósito, que colocamos o ano passado, não resolveu o assunto, então vamos reabilitar outro e dessa forma estamos convencidos que vamos resolver o caso em definitivo”.

Além disso, o vereador do Município alega que existem perdas de água que é preciso identificar e resolver. “Há perda de água efetiva, porque a água que sai do depósito não passa pelos contadores da população, e temos de identificar essa perda, com a ajuda das Águas do Norte, porque é significativa”, afirma.

Da reunião não saiu qualquer medida a tomar, a não ser aguardar pela concretização das promessas deixadas por Vítor Correia.

Jornalista: Fernando Pires

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