Investigadores portugueses e espanhóis vão trabalhar em equipa para reconstruir virtualmente as termas romanas de Chaves, o maior balneário da Península Ibérica que foi transformado em museu, uma iniciativa inserida na maratona e simpósio de Arqueologia Virtual.

O Museu das Termas Romanas abriu em dezembro, em Chaves, e conta uma história de 2000 anos que ficou “congelada” no tempo após um sismo e foi descoberta nas escavações para a construção de um parque de estacionamento.

Trata-se do maior balneário da Península Ibérica e um dos maiores da Europa e do Império Romano, e foi o palco escolhido para os trabalhos a realizar durante a Maratona de Arqueologia Virtual, que arranca na segunda-feira e termina no sábado, com um simpósio.

“Durante uma semana, um conjunto de especialistas que têm em comum o ‘3D’ (tecnologia em três dimensões) vai juntar-se e vai modelar as termas como eram na época romana, ou seja, vai fazer a recriação do espaço, do ambiente interior e exterior”, afirmou hoje à agência Lusa o arqueólogo João Ribeiro, da Archeo3D que, juntamente como o município de Chaves, é responsável pela organização do evento.

São 15 os arqueólogos, historiadores, arquitetos, professores universitários, designers e empresários em nome individual, de Portugal e Espanha, que vão trabalhar em equipa para reconstruir virtualmente o edifício termal romano identificado no largo do Arrabalde e a área envolvente.

Através da modelação tridimensional, pretende-se facilitar a interpretação e promover a difusão deste complexo arquitetónico ligado à ocupação romana na região.

Para o efeito vai ser criada uma comissão científica, liderada por Sérgio Carneiro, arqueólogo que acompanhou os trabalhos de escavação e descoberta daquele balneário termal, e que integra ainda especialistas em termas romanas e em ‘3D’.

A reconstrução será feita, explicou João Ribeiro, “com base em paralelos com outras termas, em estudos desenvolvidos sobre os materiais e a arquitetura”, sendo que o objetivo é chegar “ao mais real possível de como as termas eram na época romana”.

“Há uma grande curiosidade por parte da população e da comunidade científica sobre o que eram estas termas romanas, uma das mais bem conservadas da Europa e do Mundo. Faz todo o sentido nós fazermos este trabalho”, salientou o arqueólogo.

A arqueologia virtual é uma disciplina que não utiliza métodos intrusivos, como por exemplo a escavação, que vem complementar a arqueologia tradicional e pode servir como ferramenta de trabalho para registar “mais rapidamente e de maneira mais rigorosa” alguns elementos.

“É o futuro da investigação e da arqueologia. Na Archeo3D trabalhamos com arqueologia virtual desde 2014. Todos os registos arqueológicos que fazemos nos trabalhos de arqueologia, escavação, prospeção e do registo do património, é tudo feito através das novas tecnologias de ‘3D’”, salientou.

Depois da semana de trabalho, no sábado os investigadores vão apresentar os resultados da maratona virtual e ainda projetos individuais que estão a desenvolver.

Esta maratona e simpósio são uma iniciativa anual, que se realiza desde 2015 e que visa potenciar o conhecimento de um sítio arqueológico através da arqueologia virtual.

Foi durante a realização de prospeções arqueológicas em 2005, no largo do Arrabalde, no centro da cidade, para a construção de um parque de estacionamento que se identificou o balneário termal.

O projeto do parque de estacionamento foi abandonado e foram feitas escavações arqueológicas que revelaram duas grandes piscinas, mais sete de pequenas dimensões e ainda um complexo sistema hidráulico de abastecimento às estruturas e que ainda hoje funciona.

Um património que estava como que “congelado” no tempo, devido a um sismo que, no século IV, provocou a derrocada do edifício.

As termas medicinais romanas foram classificadas como monumento nacional em 2012 por serem o “mais importante complexo termal português”, de dimensões apenas comparáveis, em termos provinciais, às de Bath (Inglaterra).

Por: Lusa

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