Os “Factos vistos à Lupa” por André Pinção Lucas e Juliano Ventura – Uma parceria do Canal N com o Instituto +Liberdade
Os jovens portugueses apresentam hoje níveis de qualificação superiores à média europeia, mas essa vantagem não se reflete nos salários que recebem. O contraste entre a formação alcançada e a remuneração obtida ilustra um dos principais bloqueios estruturais da economia nacional: a dificuldade em transformar qualificações em valorização profissional.
Em 2024, 36,1% dos jovens entre os 20 e os 29 anos tinham concluído o ensino superior, uma percentagem acima da média da União Europeia (31,7%). Trata-se de um progresso notável face às gerações anteriores e também em comparação com a população em geral, na qual apenas 30% dos portugueses possuem ensino superior, contra 33,4% na média europeia.
Seria natural que esta maior qualificação dos jovens se traduzisse em rendimentos mais elevados e em salários mais próximos dos padrões europeus. Contudo, os números mostram outra realidade: o salário médio bruto anual dos jovens portugueses fixou-se em apenas 17 mil euros, cerca de 29% abaixo da média europeia, que é de 25 mil euros. Estes valores estão ajustados em paridade de poderes de compra, o que significa que refletem de forma comparável o nível de vida.

A distância em relação à média da União Europeia é praticamente igual à que se observa no conjunto da população ativa: em Portugal, o salário médio bruto anual é de 23 mil euros, contra 33 mil euros na UE, um diferencial de cerca de 30%. Ou seja, a maior qualificação dos jovens portugueses não está a alterar a tendência geral de baixos salários.
Este desfasamento evidencia que o problema do país não se limita ao nível de qualificações. A raiz está na reduzida produtividade da economia e na incapacidade de valorizar adequadamente os trabalhadores. Tal realidade não só compromete a qualidade de vida das novas gerações, como também alimenta fenómenos como a emigração jovem e a dificuldade em atrair e reter talento. Portugal arrisca, assim, perder uma das suas maiores vantagens competitivas: uma juventude qualificada e com ambição de futuro.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
29 de setembro de 2025