Os factos vistos à lupa – Uma parceria com o Instituto +Liberdade (maisliberdade.pt)
Em Portugal, o esforço necessário para pagar os presentes de Natal é significativamente mais elevado do que na maioria dos países da Europa Ocidental. Em média, um trabalhador português precisa de cerca de 41 horas de trabalho para gerar rendimento suficiente para cobrir uma despesa de aproximadamente 400 euros em presentes natalícios — valor que cada português irá gastar este Natal, em média, segundo um estudo do IPAM.
O contraste é evidente quando olhamos para países como os Países Baixos e a Alemanha: para comprar a mesma quantidade de presentes, ajustada aos diferentes níveis de preços, são necessárias apenas 17 horas de trabalho. Ou seja, para um consumo equivalente, um trabalhador português tem de dedicar mais do dobro do tempo.
A explicação não está tanto nos preços, mas num fator estrutural: o baixo rendimento líquido por hora de trabalho, quando medido em paridade de poderes de compra. Este indicador permite comparar o poder de compra real dos salários entre países. E quando colocamos todos a pagar exatamente a mesma despesa (já com o ajuste de preços), torna-se claro que o salário “rende” muito menos em Portugal.

Não é um caso isolado: Portugal aproxima-se sobretudo de vários países do sul e do leste europeu, onde o esforço necessário ultrapassa, na maioria dos casos, as 40 horas. Já nas economias com salários mais elevados e maior produtividade, o mesmo cabaz de presentes representa uma fração muito menor do tempo de trabalho mensal.
No fim, a conclusão é simples: o Natal acaba por ser financeiramente mais “caro” para quem vive em países com rendimentos baixos — mesmo quando ajustamos os preços para comparações mais justas. E isso lembra-nos que a discussão sobre salários, produtividade e poder de compra não é abstrata: sente-se, literalmente, na carteira.
Vale a pena lembrar: quando o rendimento cresce pouco, qualquer momento de consumo “universal” pesa mais. E pesa todos os anos.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
23 de dezembro de 2025


















