No dia 28 de Abril a queda da eletricidade fez-se sentir na Europa afetando vários países. Em Portugal, de norte a sul do país, a população ficou “às escuras” e os serviços disponíveis foram perturbados no seu funcionamento.  As repercussões foram notórias em múltiplos meios como na área da saúde, transportes, comércio, habitação e telecomunicações. 

Embora sejam casos excecionais, não é a primeira vez que se registam falhas elétricas em Portugal. O último apagão remete a 24 julho de 2021 onde foram vários os pontos do país que sofreram com as interferências na rede devido a um incêndio florestal. Uma das consequências mais significativas foi registada em Lisboa, no centro de operações de emergência, o 112. Nessa ocorrência, o sistema de redundância, encarregue de assegurar o aprovisionamento de energia nestas situações, falhou por completo, o que levou a que algumas regiões ficassem impedidas de estabelecer ligação com o contacto de emergência. Até então, este era considerado o episódio de maior gravidade dos últimos 20 anos referente à rede elétrica portuguesa. 

Outro caso mais antigo aconteceu a 9 de maio de 2000, conhecido como o “Apagão da Cegonha” em que metade do país ficou sem energia durante duas horas, não tendo sido detetado qualquer curto-circuito por parte do sistema da EDP. Ficou assim denominado, tendo sido precisamente resultado do embate de uma cegonha contra uma linha de alta tensão no Município da Figueira da Foz. 

Foram várias as especulações sobre a origem e a causa do apagão que se verificou a partir das 11h30 de Portugal nesta segunda-feira. A falha elétrica foi assunto do dia e consequentemente foram difundidas informações não fidedignas relativamente ao tema. Alguns dos boatos mais comentados foram que o acontecimento teria sido resultado de um suposto ataque russo, ou um fenómeno atmosférico raro e, além disso, houve também suspeitas de que teria ocorrido um acidente na rede elétrica europeia devido a um avião de combate a incêndios. Outra das preocupações da população foi relativa à duração do corte generalizado do abastecimento elétrico. As opiniões dividiram-se, sendo que para alguns apenas duraria algumas horas e outros receavam que se estendesse a vários dias. 

Em Portugal, a energia regressou de forma gradual, sendo os serviços mais urgentes os primeiros a retomar à normalidade. Foi a partir das 21h00 que a rede elétrica estabilizou de forma generalizada em todo o país. Segundo informações divulgadas até agora, a falha elétrica foi provocada devido a um efeito em cadeia de sucessivos apagões. O episódio teve início as 12h38 de Franca (11h38 em Portugal) quando a rede ibérica se desconectou da rede europeia. A ligação entre França e Catalunha foi retomada as 13h30 (12h30 em Portugal). Apura-se então que a causa da falha possa estar relacionada com o incidente nas linhas de alta tensão de importação de energia de França para Espanha.  

A situação já se encontra normalizada e o funcionamento de grande parte dos serviços decorre conforma as normas habituais, no entanto, ainda se verificam constrangimentos nos aeroportos com voos atrasados e, até mesmo, cancelados. 

Ainda que a vida quotidiana tenha retomado ao ritmo usual, o apagão ibérico deu abertura a uma reflexão que questiona a preparação do país e da população em situações de emergência. Como se verificou, o caos propagou-se de norte a sul do país tendo impactado, não apenas no funcionamento dos serviços, como também na comunidade que procurou obter os recursos necessários, como por exemplo através da ida aos Supermercados em que se apurou a ampla venda do stock em diversas lojas. Outros pontos verificados, foi a compra de meios de iluminação sem recurso a fonte de energia elétrica e de rádios que permitissem acompanhar o que estava a acontecer no país, através de alguns canais que conseguiram retomar a emissão. A procura por geradores foi também bastante solicitada pela população como fonte de alimentação de energia para contornar a falha de eletricidade que perdurou até ao fim do dia de segunda-feira. 

Em declarações fornecidas ao canal N, Rui Fernandes, proprietário de uma empresa de aluguer de material para eventos, como geradores, afirma que o acontecimento “Foi muito, muito complicado…” e aponta o impacto negativo na empresa, que teve “Trabalhos deixados a meio, trabalhos estes que são irrecuperáveis”. Segundo a fonte, o apagão resultou na extensa procura por geradores, devido à geral “Inexistência dos mesmos nas casas”, sendo que às 13h00 já teriam sido todos alugados. Com a empresa sediada em Macedo de Cavaleiros, o proprietário revela ainda que recebeu “Um telefonema de uma pessoa que tinha um familiar em casa ligado a um ventilador” e que “Além de não ter energia para manter a pessoa com as condições necessárias, também não tinha gasolina para se deslocar até aos locais e arranjar solução”.  

A área da saúde foi notoriamente um dos setores mais afetados e que mais preocupou a população e além disso, foram também visíveis os constrangimentos no trânsito e transportes. Também na restauração se sentiu o impacto do apagão que resultou em prejuízo, houve “Arcas que descongelaram e o serviço multibanco estava sem funcionar, o que levou pessoas a saírem dos estabelecimentos sem conseguir pagar e que, se calhar, não voltam para liquidar a conta.”  

Para Rui Fernandes não pode acontecer a extensa interrupção em vários setores, como é o caso dos Postos de Combustível que são “necessários e precisam de funcionar”. Tendo em conta a sua experiência no negócio de geradores, a solução passa pelo Governo “Lançar uma linha de geradores de recurso para as empresas”. Reflete ainda sobre o progresso ao longo dos anos, procurando uma maior descentralização: “A aposta em zonas mais povoadas como o Litoral, deixando as empresas do Norte e Interior sem apoios para se conseguirem equipar”. À margem do assunto, aproveitou para relembrar o facto de ter sido a empresa a fornecer os equipamentos em tempo de pandemia, de modo a assegurar o desempenho do centro de COVID-21.  

Segundo o proprietário “As empresas, no geral, estão cá quando o povo precisa, mas só podem fazer isso se se conseguirem equipar e ter apoios”. Nesta linha de pensamento concluiu com uma reflexão dirigida aos sistemas de apoio na zona Norte e Interior, afirmando que “Há sempre carência desses apoios para as empresas se equiparem e ficarem precavidas a nível nacional”.  

O Apagão Ibérico de 28 de Abril deixou evidente a vulnerabilidade da infraestrutura elétrica portuguesa, afetando todo o país. Com os serviços essenciais comprometidos e a rotina da comunidade interrompida, o episódio reforça o debate sobre a necessidade de modernização e investimento no sistema energético nacional. À medida que as autoridades investigam as causas e apuram os factos, a população espera que medidas concretas sejam tomadas para evitar que falhas semelhantes voltem a ocorrer. 

Jornalista: Vitória Botelho 

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