Artigo de Opinião de José Martinho – Tradutor oficial, Deputado Municipal em Lausanne (Suíça)

Aqui em casa hesitamos. Será necessário este ano, como todos os anos, preparar coisas especiais em torno das festas de fim de ano, prendas de Natal, refeições pantagruélicas e brilhantes e exageradas decorações? Afinal, a guerra não está longe, milhares de pessoas estão mergulhadas no frio e na escuridão, e aqui em Portugal muitas famílias estão já a cortar no seu orçamento de presentes, abrindo mão dos gigantescos banquetes, preocupando-se com o que aí vem (o aumento do preço do cabaz alimentar, a perda de poder de compra, o galopar desenfreado da prestação da casa).

Para além disso, o consumismo compulsivo deixa a pouco e pouco de ser tendência sob a árvore de Natal. Não há necessidade de oferecer toneladas de brinquedos feitos de materiais poluentes às nossas crianças, se com isso estamos a torpedear o seu futuro neste planeta.

Eis os argumentos dos defensores da sobriedade festiva.

«Estão a exagerar», indignam-se os outros. «E as reuniões ? E as tradições ? E a alegria que nos ilumina os olhos quando descobrimos os nossos lindos presentes ? E o amor e a amizade que queremos testemunhar aos nossos entes queridos ?».

Ainda que as reuniões em torno da árvore de Natal nos deem cabo dos nervos por antecipação, ainda que a cada vez digamos a nós próprios que fizemos demais, que comemos demais, que gastamos demais, que perdemos horas preciosas em correrias endiabradas pelas ruas comerciais e a esbugalhar os olhos contra as montras das lojas quando estamos exaustos, é inimaginável passar as festas de Natal e fim de ano como se nada fosse. Não ?

A animada discussão misturava as nossas memórias de infância, os encargos das mães e dos pais, as nossas expetativas quanto ao presente perfeito, as nossas consciências (boas ou ruins), e – last but not least – o estado das nossas finanças. Finalmente, concluímos que algumas nuvens cinzentas estavam a pairar suficientemente baixo sobre o nosso moral para desistirmos de dizer «amo-te». Assim, decidimos surpreendermo-nos a nós mesmos, com ideias para agradar a quem amamos, em harmonia com nosso padrão de vida, os nossos desejos, e claro, as nossas preocupações com a preservação do ambiente.

Resolvemos então preparar os pratos grandes e os pratos pequenos. E falar das tradições daqueles que estão no exílio ou que sofrem, e que, apesar de tudo, conhecem a beleza destes momentos de celebração e se deixam inspirar pela magia cintilante do final de dezembro.

A todas e a todos, votos de festas felizes. E já agora não esqueçam a verdadeira essência do Natal : o nascimento de Jesus menino e a mensagem que Ele trouxe à humanidade !!!

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