Artigo escrito por Sofia Bernardino, enfermeira na ULSTMAD, membro da Associação de Profissionais de Saúde do Alto Tâmega (APSAT)
A menopausa é um processo natural pelo qual todas as mulheres passam, marcando o fim do ciclo reprodutivo. Apesar de ser um fenómeno biológico universal, a forma como é vivida e encarada é um processo individual, refletindo diferenças culturais, sociais e pessoais.
Como já falei várias vezes nos meus artigos, sou doente oncológica e no processo de tratamento, aos 43 anos, abruptamente encaro com a menopausa. Desde então a questão “E o que é que eu vinha fazer …?” passou a fazer parte do meu quotidiano.
Este artigo pretende refletir sobre os desafios e transformações que a menopausa traz, reforçando a importância de se falar abertamente sobre o tema, não sendo um exclusivo para mulheres, mas para a sociedade em geral.
Fisiologicamente, a menopausa corresponde à cessação definitiva das menstruações devido à diminuição da atividade ovárica, geralmente ocorrendo entre os 45 e os 55 anos. Este marco é frequentemente acompanhado de sintomas físicos – como os sobejamente conhecidos “afrontamentos”, suores noturnos, alterações do sono, mudanças no metabolismo e de alterações emocionais, como irritabilidade, ansiedade e, por vezes, sentimentos de perda ou insegurança, acompanhados de choro fácil. Dificuldade em lembrar nomes ou palavras, esquecer compromissos importantes, dificuldade na concentração, ler a mesma página dezenas de vezes, são um conjunto de sintomas que podem ser frustrantes, mas são uma parte normal deste processo. A principal causa da névoa mental durante a menopausa são as flutuações hormonais, especialmente a redução nos níveis de estrogénio e progesterona. Estas hormonas desempenham um papel crucial na regulação de funções cerebrais, incluindo a memória, a concentração e o humor.
A menopausa é, sem dúvida, um período de desafios. A transição pode ser marcada por desconfortos físicos e emocionais, que afetam a qualidade de vida. A falta de informação e o estigma associado à menopausa potenciam a abertura de um caminho para o isolamento, e à sensação de incompreensão. Outro desafio relevante é a necessidade de adaptação a uma nova identidade; simbolicamente, a menopausa marca o fim da fertilidade e pode desencadear reflexões profundas sobre o envelhecimento, a sexualidade e o papel social da mulher.
Além disso, vivemos numa sociedade que valoriza a juventude, tornando o envelhecimento feminino ainda mais invisibilizado.
Apesar dos desafios, a menopausa pode ser entendida como um momento de transformação e renovação. Com o fim do ciclo menstrual, muitas mulheres sentem-se libertas de preocupações mensais e de limitações associadas à fertilidade. O amadurecimento emocional, a experiência de vida e a possibilidade de investir em novos interesses tornam esta etapa uma oportunidade para o autoconhecimento e para o fortalecimento da autoestima.
É fundamental promover a disseminação de informação clara e acessível sobre a menopausa, abolindo mitos e combatendo preconceitos. O diálogo aberto, tanto no contexto familiar como profissional, pode ajudar a criar redes de apoio e a reduzir o impacto negativo desta fase. O acompanhamento médico, aliado a práticas de autocuidado – tais como uma alimentação equilibrada, a prática de exercício físico e a atenção à saúde mental – são essenciais para garantir uma transição mais tranquila.
Um alerta para todos, a menopausa deve ser encarada não como um fim, mas como o início de uma nova etapa cheia de possibilidades. Falar sobre a menopausa é também falar sobre o envelhecimento feminino com dignidade e respeito, reconhecendo o valor e a experiência acumulados ao longo dos anos. Que esta reflexão incentive mais mulheres a abraçar esta fase com confiança e a sociedade a valorizá-la como merece.
O Dia Mundial da Menopausa foi comemorado, no passado dia 18 de outubro, este ano 2025, com o tema “Medicina do estilo de vida”, realçando que práticas simples de estilo de vida podem apoiar a saúde e o bem-estar durante a menopausa.
E nunca se esqueçam… saber mais conta!