Com a aproximação do outono e inverno, é inevitável que a gripe sazonal volte a ocupar um lugar de destaque nas preocupações de saúde pública em Portugal e no mundo. Esta doença, causada pelo vírus influenza, é uma das infeções respiratórias mais comuns e contagiosas, afetando anualmente milhões de pessoas. No entanto, apesar de frequente, a gripe não deve ser encarada com leviandade, pois pode provocar complicações graves, sobretudo em grupos mais vulneráveis como crianças, idosos e pessoas com doenças crónicas.
Um dos maiores desafios no combate à gripe sazonal é a constante mutação do vírus. O vírus influenza possui uma elevada capacidade de sofrer alterações genéticas, fenómeno conhecido como “deriva antigénica”, que permite o aparecimento anual de novas estirpes. Esta mutação é a razão pela qual a vacina contra a gripe precisa de ser atualizada todos os anos e administrada anualmente, para oferecer proteção contra as variantes mais recentes do vírus.
Por este motivo, mesmo quem tenha sido vacinado ou tenha tido gripe num ano anterior não está totalmente protegido contra as estirpes que surgem nos anos seguintes.
É importante esclarecer que a gripe é causada por um vírus e, portanto, não pode ser tratada com antibióticos, que apenas combatem bactérias. Muitas vezes, as pessoas procuram automedicação ou pressionam para lhes serem prescritos antibióticos, mas estes não têm qualquer efeito contra a gripe e podem até contribuir para o aumento da resistência bacteriana.
O tratamento da gripe baseia-se no alívio dos sintomas (como febre, dores musculares, tosse e congestão nasal) através de antipiréticos, analgésicos e medidas não farmacológicas, como repouso, hidratação e alimentação adequada. Em alguns casos, quando prescritos por um médico, podem ser usados antivirais específicos, que ajudam a reduzir a duração da doença se tomados nas fases iniciais.
Prevenção: O Melhor Remédio
A prevenção continua a ser a melhor estratégia contra a gripe. Aqui ficam algumas recomendações essenciais:
Vacinação Anual: A vacinação é a medida mais eficaz para prevenir a gripe ou reduzir a sua gravidade. A sua administração deve ocorrer preferencialmente antes do início da época gripal.
Higiene das Mãos: Lavar frequentemente as mãos com água e sabão ou usar soluções alcoólicas, especialmente após contacto com pessoas doentes ou superfícies potencialmente contaminadas.
Etiqueta Respiratória: Cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar, utilizando lenço de papel descartável ou o cotovelo.
Evitar Aglomerações e Contactos Próximos: Sempre que possível, evitar locais com muitas pessoas, principalmente durante os períodos de maior incidência da gripe.
Ventilar os Espaços Fechados: A renovação do ar em casa, escolas e locais de trabalho diminui a concentração viral no ambiente.
Cuidados com o Estilo de Vida: Alimentação saudável, sono adequado e prática regular de exercício físico fortalecem o sistema imunitário.
Quando e Onde Procurar Ajuda Médica
Um aspeto que merece especial atenção é o recurso aos serviços de saúde. Muitas vezes, a população dirige-se diretamente às urgências hospitalares por sintomas gripais, o que pode sobrecarregar estes serviços, deixando-os menos disponíveis para casos graves.
Na maioria dos casos, a gripe pode e deve ser acompanhada nos centros de saúde, que estão preparados para realizar o diagnóstico e aconselhamento adequados. Só em situações de agravamento, como dificuldade respiratória, febre muito alta que não cede, confusão mental, dor no peito ou persistência dos sintomas por vários dias, deve procurar-se assistência hospitalar urgente.
Além disso, evitar deslocar-se desnecessariamente aos hospitais ajuda a prevenir a propagação do vírus, protegendo a comunidade e os profissionais de saúde.
A gripe sazonal é um fenómeno natural, mas que exige de todos nós uma atitude informada e responsável. Compreender a natureza mutável do vírus, saber que não existem antibióticos para a gripe e valorizar o papel da vacinação e das medidas preventivas são passos essenciais para minimizar o impacto desta doença.
Cuidar de si é também cuidar dos outros. Por isso, siga as recomendações, proteja-se e proteja a sua comunidade.
Artigo escrito por Maria Luís Domingues, enfermeira na ULSTMAD, membro da Associação de profissionais de Saúde do Alto Tâmega APSAT