Artigo de Opinião de José Martinho – Tradutor oficial, Deputado Municipal em Lausanne (Suíça)

Como é meu apanágio em tudo o que diz respeito à minha terra, tenho acompanhado com interesse a pré-campanha eleitoral das diferentes candidaturas que disputarão a Câmara Municipal de Mirandela no próximo dia 26 de Setembro. E há candidaturas para todos os gostos, disso não se podem os mirandelenses queixar. O que é excelente para a democracia.

Comecemos pelos extremos: à esquerda, quando lhe perguntam porque quer ser Presidente da Câmara e que projetos tem para o concelho, o candidato responde que é um sonho de menino que agora realiza !… No lado oposto, representando um partido de estrema direita, o candidato aponta como prioridades temáticas que em princípio são de esquerda,  tais como dar apoios sociais e recuperar propriedade privada com recurso a dinheiros públicos. Está tudo dito, é o mundo ao contrário. Os eleitores saberão avaliar, nas urnas, a credibilidade destas candidaturas.

No que toca aos partidos ditos do arco da governação, a última candidatura a ser apresentada, foi aquela que antes de o ser já o era. Ou seja, a recandidatura da atual Presidente. A qual, diga-se de passagem, apresenta um balanço fraquinho e muito aquém daquilo que prometera há 4 anos, mas que lá vai cortando fitas, tirando, não raras vezes, proveito do trabalho de quem a antecedeu no cargo. Lá vai lançando um ou outro projeto e lá vai trazendo um ou outro governante, fruto dos conhecimentos que acarreou aquando da sua passagem pela Assembleia da República. Claro está que nos tempos que correm, o novo coronavírus tem as costas largas, e o bicho foi com certeza um dos principais responsáveis por tamanha inércia verificada neste mandato.

As candidaturas de centro-direita deram, logo à partida, um tiro no pé (ou nos pés), ao não terem apresentado, tal como acontece em grande parte dos municípios portugueses, um projeto comum e conjunto. É a minha humilde opinião, e vale o que vale. Os “fazedores” de estratégia saberão tirar (ou não) as devidas ilações no fim da safra. Parece-me no entanto que das duas, a candidatura à partida menos consistente está a fazer um trabalho sóbrio, que poderá angariar muitas simpatias em detrimento da outra, a única que poderia (e pode) contrariar o poder instalado. Desta, atiram-nos todos os dias “vamos mudar Mirandela, este é o momento”, sem no entanto nunca dizerem o que vai mudar e como vai mudar. E a cerca de um mês e meio das eleições, programa nem vê-lo !…

Quanto às promessas das diversas candidaturas, as costumeiras banalidades: vamos revitalizar isto, requalificar aquilo, redinamizar o culoutro… Faltam ideias. Arrastadas nos tempos passados, perdem o futuro por entre os dedos da oratória envelhecida, repetitiva, descolorida. Sintomas de uma democracia local que envelhece prematuramente, que abre portas a populismos e que lança, não raras vezes, independentes irados com os seus partidos.

Existe porém um denominador comum nos discursos de todas elas, no qual vous concentrar a minha reflexão: o facto de todas quererem atraír investimento e desenvolver e consolidar o tecido empresarial. No entanto, não há uma única que faça referência àquela que em meu entender seria uma das formas mais simples, mais rápida e mais efetiva de criar riqueza: pensar nos mirandelenses do estrangeiro (vulgo emigrantes) e proporcionar-lhes condições de investirem na sua terra. Com efeito, tal como o resto do país, Mirandela é uma cidade e um concelho repartidos pelo mundo e não se confina ao seu espaço. Mirandela não é o seu território, Mirandela é o seu povo, onde quer que ele se encontre.

Mas este esquecimento é um problema generalizado por parte daqueles que conduzem os nossos destinos. Nós temos o Portugal de Lisboa, depois temos o Portugal dos grandes centros urbanos, temos o Portugal do litoral confrontado com o Portugal do interior, e só em último lugar aparece aquele Portugal espalhado pelo mundo, que são as comunidades portuguesas. Infelizmente no nosso país nunca ninguém teve capacidade reformadora nesta área fundamental, muito particularmente num momento em que se fala de globalização. Vivemos hoje num mundo cada vez mais global onde as fronteiras se esbatem e a mobilidade humana se assume como um dos paradigmas estruturantes das relações entre os municípios, os países, e os seus os povos. E as nossas comunidades anseiam ser devidamente reconhecidas e valorizadas em Portugal. Esta tem sido uma luta difícil contra muitos obstáculos e muitos preconceitos instalados na elite política nacional que acabam por criar a ideia, entre os portugueses do estrangeiro, de que não são bem vistos em Portugal e de que quem está lá fora deixa de contar efetivamente. Esta perceção, muitas vezes sentida pela nossa Diáspora deve-se em grande medida à ausência de uma estratégia para fomentar e atrair o investimento das comunidades nas suas terras de origem, quer seja no seu distrito, concelho ou freguesia.

Claro que há notáveis exceções que confirmam a regra. Ainda na semana passada, Bragança acolheu e patrocinou a 10.ª edição da gala Portugueses de Valor, que premeia o sucesso de portugueses dentro e fora de portas, e que contou com a presença da Secretária de Estado das Comunidades, a qual destacou a importâcia dos portugueses do estrangeiro, quer seja na promoção da cultura, da gastronomia ou do marketing territorial das suas terras natais. Outro bom exemplo é o Município de Arcos de Valdevez. O seu Presidente percorre anualmente milhares de quilómetros entre Portugal, a Suíça, o Canadá, para ir ao encontro dos seus munícipes radicados no estrangeiro. Criou inclusaivamente o Encontro da Diáspora Arcuense, com o intuíto de reforçar os laços entre a vasta comunidade de emigrantes e a sua terra natal, em termos culturais, sociais, turísticos e empresariais. Já o pelouro da economia do Município de Famalicão implementou o Programa Embaixadores e promove todos os anos no mês de Agosto o Dia do Emigrante, com uma receção aos seus nos Paços do Concelho. São só alguns exemplos de uma lista que não se quer exaustiva.

É, pois, chegada a hora de também Mirandela avançar nessa direção. E tem que o fazer não apenas pelas suas comunidades, mas sobretudo por um município que anseia por gente empreendedora, por um município que ganhará certamente com a presença dos seus munícipes do estrangeiro nos centros de decisão, e sobretudo por um município que necessita de apoio e de investimento. Um município como o de Mirandela, que tem uma dimensão demográfica relativamente pequena e uma economia que, independentemente dos progressos feitos, ainda está longe de atingir as metas que se entendem como normais para aqueles municípios mais fortes economicamente, deve procurar associar à sua realidade o mundo e o potencial das suas comunidades. Estamos a falar de gente que tem um contributo notável para a economia nacional. E não só pelas remessas de dinheiro. Mas mesmo nas remessas, num país onde se fazem tantas contas e que raramente dão certo, era bom que se comparasse aquilo que são as remessas dos emigrantes e os fundos europeus, e rapidamente se constataria que há pouca diferença. E apesar da pouca importância que lhes é dada, persistentemente, estes emigrantes no mundo continuam a investir, e de que maneira, em Portugal, nos seus territórios de origem, e muito particularmente nos territórios de baixa densidade populacional como é o nosso.

A seu tempo tornarei público qual a candidatura que merecerá o meu apoio. Até lá, como diria um querido amigo que certamente voltará a liderar um executivo camarário a partir de 26 de Setembro, “eu vou andar por aí”. E por aqui.

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