Artigo de opinião escrito por Nuno Pires- Direção do Estabelecimento Prisional de Bragança

As festas e as romarias são formas únicas de expressão anímica e de encontro das nossas gentes, sobretudo no meio rural. Porque as senti, vivi com intensidade e, muitas vezes, organizei, quer no meio rural, quer urbano, entendo que, de algum modo, posso falar sobre esta forma de expressão coletiva e manifestação de identidade religiosa e social.

Vou debruçar-me sobre a apresentação dos cartazes alusivos, anunciadores. Nem sequer me atrevendo a falar sobre o critério de colocação de cartazes, nem tão pouco da sua própria disposição em cada espaço livre (os próprios partidos políticos também não são exemplo a seguir neste contexto) entendo, no entanto, que não deveriam proliferar por aí de uma forma desordenada e pouco cuidada, sem se ter em conta o mínimo sentido estético, ou mesmo o cuidado com a defesa do meio ambiente.

Um cartaz deve ser um dos elementos mais nobres e dignificantes de um acontecimento festivo, devendo na sua estruturação serem salvaguardados alguns princípios, nomeadamente no que toca à apresentação e mensagem a transmitir, tendo em conta a potencialização e clareza informativa a difundir e os objetivos a atingir.

Falando concretamente dos cartazes das nossas festas e romarias, será fácil concluir que, na sua maior parte, não cumprem os princípios mínimos exigíveis, a vários níveis, acabando, desse modo, por não traduzirem o efeito desejado na sua máxima força.

Entre outros aspetos, se nos detivermos com uma atenção mais cuidada a observar alguns, sem mesmo pôr em causa o uso da língua materna pouco cuidado e até desajustado ao contexto, depressa concluiremos que há ali algo que não se compadece com os objetivos, nomeadamente ao nível do sagrado.

É que não me parece justo, por exemplo, que seja promovida uma festividade a um determinado Santo Padroeiro ou de um Santuário e a imagem evocada que sustenta e dá o nome ao programa festivo, seja, muitas vezes, relegada para um lugar menos relevante no cartaz, sem a dignidade que se impõe.

Há inúmeros casos em que a imagem religiosa até passa despercebida, em contraponto com as fotos exageradamente expostas de um conjunto, grupo musical, ou de um artista, cuja postura nada tem a ver com o espírito da religiosidade evocada para a celebração da festa.

Ora, se uma organização festiva é promovida em louvor de um determinado padroeiro, certamente evocado inúmeras vezes pelos fiéis devotos que a promovem, ao longo de cada ano e se preocupam em embelezar a igreja ou capela nos dias de celebração, porque razão a imagem, em muitos cartazes, surge de uma forma tão discreta e, nalguns casos, pouco dignificante em relação aos demais conteúdos?

E se o pároco é responsável pelos atos religiosos, salvo se optar por uma postura pilatiana negligente, também na execução dos cartazes, a sua opinião deve ser tida necessariamente em conta, de modo a que sejam estruturados com a dignidade que se impõe.

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