Artigo de opinião de Lurdes Santos, Técnica de Radiologia na ULSTMAD, membro da APSAT (Associação de Profissionais de Saúde do Alto Tâmega)
A radiação ionizante é energia. Essa energia para permitir visualizar as estruturas anatómicas e diagnosticar patologias precisa atravessa-las. Nesse processo alguma energia é absorvida ao interagir com a matéria, podendo causar alterações na mesma.
A energia usada é suficiente para provocar alterações celulares, e em casos de sobredose tornar-se prejudicial. Os exames radiológicos são essenciais para o diagnóstico, mas não são completamente inócuos. É fundamental ponderar os riscos e os benefícios, não deixando que a aliteracia em saúde permita confundir excesso com qualidade.
Hoje em dia, é comum as pessoas pedirem exames radiológicos (RX, TC, etc) sempre que sentem algo diferente. Compreende-se essa vontade: todos queremos respostas rápidas e certezas sobre a nossa saúde. Mas será que mais exames significam, de facto, melhor medicina? Infelizmente, nem todos temos acesso à informação adequada para tomar decisões conscientes sobre saúde. Muitas pessoas acreditam que quanto mais exames fizerem, melhor cuidam de si. Esta falta de conhecimento pode levar a pressões indevidas sobre os médicos, os quais se sentem na obrigação de prescrever exames desnecessários, frequentemente, para não enfrentarem processos ou reclamações.
É preciso confiar nos profissionais de saúde. Os médicos não recusam exames por desleixo, mas porque têm de garantir que aquele procedimento é mesmo necessário e seguro.
Para melhorar essa realidade, todos temos um papel a cumprir. Os profissionais precisam de tempo e ferramentas para explicar as decisões clínicas. E nós, enquanto cidadãos, devemos procurar compreender melhor os exames a que somos sujeitos. Devemos fazer perguntas, sim, mas também ouvir e confiar nas respostas.
Fazer exames a mais pode parecer uma forma de prevenir, mas na realidade o verdadeiro cuidado com a saúde está na informação de qualidade, decisões ponderadas e confiança mútua entre profissionais e pacientes.
A confiança na tecnologia é legítima, mas ela não deve substituir o raciocínio médico. Os exames radiológicos, como radiografias, tomografias computorizadas (TC), têm indicações específicas e devem ser solicitados após avaliação criteriosa dos profissionais habilitados.
Quando um utente exige um exame como se fosse um direito, corre o risco de transformar um instrumento útil em algo prejudicial.
Os exames radiológicos, quando bem usados, são seguros e controlados. O problema só reside no facto de se fazerem exames sem necessidade clínica, apenas por rotina ou por insistência do utente.
Quando sentir dor, desconforto ou qualquer sintoma, procure primeiro descrever com clareza o que sente. Confie no seu médico. Ele irá decidir, com base no seu quadro clínico, se é necessário pedir algum exame, e qual o mais adequado. Se o pedido for necessário, será feito com base no conhecimento e, idealmente, com o apoio da equipa de radiologia.
Enquanto utentes, temos o direito à informação, ao esclarecimento e à decisão partilhada. Mas exigir exames como se fossem produtos de supermercado não é o caminho para uma boa saúde. Ao contrário, pode atrasar o diagnóstico correto, provocar riscos desnecessários e aumentar custos para todos, inclusive para si.
A boa medicina começa com o diálogo, não com a exigência. A confiança na equipa de saúde é parte essencial do tratamento. O melhor cuidado é aquele que evita o desnecessário.