O presidente da Associação dos Apicultores do Nordeste fala em quebras de produção entre os 80 e os 90 por cento.

As alterações climáticas, a seca, os incêndios e a crise económica são as causas apontadas para esta situação delicada que o setor atravessa e lamenta que não existam apoios por parte do Governo fazer face a esta crise na produção de mel.

José Domingos Carneiro, não tem dúvidas que nos cerca de 40 anos que está ligado ao setor da apicultura, 2022 é o ano mais fraco de sempre de produção de mel na região com quebras entre os 80 e os 90 por cento. “Acho que batemos no fundo, porque este ano houve apicultores que tiveram meio quilo de produção por colmeia. A média anda nos três, quatro quilos, quando num ano normal chega a ser de 20 quilos por colmeia”, conta.

A Associação de Apicultores do Nordeste abrange cerca de 500 produtores de mel com um total de cerca de 50 mil colmeias de vários concelhos dos distritos de Bragança, Vila Real e até de Vila Nova de Foz Coa, já no distrito da Guarda, José Carneiro revela que esta quebra de produção, que vem acontecendo nos últimos três anos, já levou à diminuição de mais de duas mil colmeias. “Alguns abandonam, outros diminuem os efetivos e como há menos abelhas, menos colmeias a produção também é menor”, frisa.

Se já não bastasse o problema dos incêndios, também a seca veio a agravar situação porque afetou a floração e com isso fica comprometida a sobrevivência das abelhas porque não têm alimento. “Há um espaço de tempo em que as abelhas têm ao seu dispor o néctar, se não vem tempo bom para poderem trabalhar porque não existe floração, como agora aconteceu, elas não saem das colmeias e não se alimentam, pelo que os apicultores já estão a alimentar com açucar as suas abelhas”, adianta.

Perante este cenário, o presidente da Associação dos Apicultores do Nordeste queixa-se de falta de apoios por parte do Governo. “Veio agora uma ajuda, apenas para os apicultores afetados pelos incêndios, de 700 gramas de açucar por colmeia, que nem tenho palavras para classificar isto, porque o apicultor gasta por colmeia, cerca de 10 quilos, veja o apoio que estão a receber”, lamenta.

José Domingos entende que devia existir maior sensibilidade da parte do poder central para o setor, lembrando a importância que as abelhas têm para a agricultura, como insetos polinizadores e dá o exemplo das amendoeiras. “A amendoeira depende de cerca de 70 por cento da polinização dos insetos e as abelhas aqui são fundamentais para que a produção da amêndoa seja boa, e nós temos as nossas abelhas instaladas um pouco por toda a região e os agricultores não precisam de pagar a polinização, porque as nossas abelhas vão lá, mas há zonas do país que já pagam, enquanto aqui fazemos tudo de borla”, lembra.

“É preciso também não esquecer a importância da polinização dos insetos para o equilíbrio do ecossistema, pelo que a apicultura é uma mais valia para toda a sociedade e não é apoiada”, lamenta o também presidente da Cooperativa de Produtores de Mel da Terra Quente e Frutos Secos gestora de uma zona controlada que abrange os concelhos de Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Alfândega da Fé, Vila Flor e Torre de Moncorvo.

O concelho de Mirandela é aquele que regista a maior quebra na produção, a que não está alheio o facto de ser o segundo concelho do país com mais colmeias. Tem perto de 10 mil. Mais só mesmo no concelho de Loulé, no Algarve.

Jornalista: Fernando Pires 

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