“Factos vistos à Lupa” por André Pinção Lucas e Juliano Ventura – Uma parceria do Canal N com o Instituto +Liberdade
Dia Mundial da Poupança: um hábito que Portugal está a recuperar
No dia 31 de outubro assinalou-se o Dia Mundial da Poupança — uma data que para alguns é de celebração, e para outros, de reflexão. Há quem veja neste dia o reconhecimento do esforço e da disciplina que permitem acumular reservas financeiras; mas há também quem o encare como uma chamada de atenção às dificuldades em poupar num contexto de salários limitados e custo de vida elevado.
Os números mostram uma realidade mista, mas com sinais encorajadores. Em 2024, por cada 100 euros de rendimento disponível, as famílias portuguesas pouparam 13 euros — um valor ainda ligeiramente abaixo da média da União Europeia (14 euros), mas que representa uma recuperação significativa face à última década.
Na viragem do século, Portugal estava lado a lado com a média europeia: em 1999, a taxa de poupança nacional era de 14%, enquanto a europeia se fixava nos 13%. No entanto, a partir de 2004 iniciou-se uma trajetória descendente. Durante quase duas décadas, a taxa de poupança portuguesa oscilou entre 7% e 8%, criando um fosso persistente face à Europa. Apenas em momentos de incerteza — como a crise financeira de 2008-09, a crise das dívidas soberanas e a pandemia — se registaram aumentos temporários, fruto do receio das famílias perante o futuro.

Hoje, Portugal regressa a valores que não via há mais de 20 anos. Apesar de a taxa de poupança ainda ser 8% inferior à de 1999, o país reencontra uma margem de segurança financeira mais próxima do padrão europeu. De acordo com o Eurostat, a taxa de poupança das famílias portuguesas é atualmente de 13%, enquanto o Instituto Nacional de Estatística (INE), com base em metodologia distinta, aponta para 12,5%.
Mais do que um indicador económico, a poupança é um termómetro de confiança. Poupamos quando acreditamos no futuro — quando sentimos estabilidade, previsibilidade e oportunidade. Portugal começa a reencontrar esse equilíbrio. Se conseguirmos consolidar uma economia mais produtiva, com rendimentos mais elevados e impostos menos penalizadores, a cultura de poupança poderá deixar de ser exceção para voltar a ser um hábito enraizado. Porque um país que poupa é, também, um país que se prepara melhor para o que vem a seguir.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
10 de novembro de 2025


















