A campanha da azeitona em Trás-os-Montes está a ser uma das mais difíceis das últimas décadas. A produção regional caiu entre 10% e 30%, mas há zonas onde as perdas atingiram 50%.
Arménio Vaz, olivicultor de Mirandela com 60 hectares de olival maioritariamente em regadio, é um dos que sentiu a severidade da quebra. Apesar de beneficiar de condições mais favoráveis do que a maioria dos produtores de sequeiro da região, o agricultor reconhece que este ano a produção foi “muito menos, nem a metade” da campanha anterior.
“No ano passado rondaram as 70 toneladas e este ano nem a metade vai. Não chegarei às 25 toneladas”, lamentou, descrevendo 2024 como um dos anos “mais drásticos” de que há memória. Aos prejuízos diretos soma-se a frustração de manter os mesmos custos de apanha para um volume muito inferior. “Os gastos são os mesmos. As máquinas têm de trabalhar na mesma e depois isso reflete-se nos custos”, sublinhou.
CALOR EXTREMO E STRESS HÍDRICO NA ORIGEM DA QUEBRA
As explicações para este cenário são, em grande parte, meteorológicas. O presidente da Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro (APPITAD), Francisco Pavão, recorda que em maio – pleno período de floração – as temperaturas na “terra quente” ultrapassaram os 30 graus, prejudicando o vingamento. A isso juntou-se um verão extremamente seco, com “um longo período de stress hídrico” que afetou sobretudo os olivais tradicionais de sequeiro.
Deste modo, as quebras de 10% a 30% que agora se verificam “já eram previsíveis”, afirma o dirigente, que insiste na necessidade de apostar no regadio para mitigar os impactos da irregularidade climática.
QUALIDADE MANTÉM-SE ELEVADA, MAS MERCADO TRAVA PREÇOS
Apesar da forte quebra produtiva, a qualidade da azeitona e do azeite não saiu prejudicada. “Felizmente a qualidade é muito boa, quer na terra quente, quer na terra fria, quer nos azeites do Douro”, garantiu Pavão, destacando um ano “excelente” do ponto de vista fitossanitário, sem pragas nem doenças relevantes.
No entanto, a quebra não está a refletir-se nos preços. Com stocks mundiais elevados de azeite da campanha anterior, o mercado está a absorver menos produto e os preços recuam em vez de subir. A mexida será “ligeira”, prevê Pavão, mas insuficiente para compensar as perdas.
Em Carrazeda de Ansiães, onde a produção caiu cerca de 30%, os produtores mostram-se especialmente desanimados. “A procura é irrisória e os preços não estão nada animadores”, afirmou Duarte Borges, técnico da AFUVOPA. O azeite que no ano passado se vendia a 35–40 euros os cinco litros, desce agora para 25–30 euros, havendo já casos abaixo destes valores.
“É um ano bastante desanimador”, resume o técnico. “Os custos de produção foram elevados, a campanha dispendiosa e não se vê o rendimento refletido no bolso dos agricultores.”
UMA DAS PRINCIPAIS REGIÕES PRODUTORAS EM DIFICULDADES
Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmam a importância estratégica de Trás-os-Montes no setor: em 2024, a região era a segunda maior produtora de azeite do país, com 78.928 hectares de olival, apenas atrás do Alentejo.
Com quebras tão significativas, produtores e associações temem que muitos agricultores enfrentem um inverno difícil e defendem que a adaptação às novas condições climáticas, nomeadamente através de um maior investimento em regadio, será decisiva para a sobrevivência do setor nos próximos anos.
A Redação com Lusa
Foto: DR


















