Os “Factos vistos à Lupa” por André Pinção Lucas e Juliano Ventura – Uma parceria do Canal N com o Instituto +Liberdade
Não é novidade que os salários são baixos em Portugal. Em 2022, segundo o Eurostat (Structure of Earnings Survey), o salário médio bruto anual ajustado ao poder de compra representava apenas 70% da média da UE — entre os piores da Europa. A métrica em paridade de poderes de compra (PPC) elimina diferenças de preços e expõe uma desvantagem estrutural.
Entre os mais novos, o retrato é ainda mais preocupante. Para trabalhadores com menos de 30 anos, o salário médio bruto anual em PPC corresponde a 71% da média europeia, colocando Portugal na 25.ª posição entre os 27 Estados-Membros (3.º pior). Isto traduz-se em autonomia adiada, dificuldades de acesso à habitação e maior propensão à emigração qualificada.

Há fatores identificados que ajudam a explicar o diferencial: produtividade relativamente baixa, forte peso de micro e pequenas empresas com margens comprimidas e custos de contexto elevados (fiscalidade, burocracia, incerteza regulatória). Os estudos mostram, por exemplo, que a margem operacional bruta das empresas não financeiras portuguesas é a mais baixa da Europa, o que limita aumentos salariais sustentados e a competitividade.
Apesar disso, há sinais recentes de recuperação nominal. Em 2024, a remuneração média por trabalhador cresceu 8,0% segundo o Banco de Portugal, refletindo a atualização do salário mínimo e alguma recuperação de poder de compra face à inflação, com ganho real estimado em 5,3%. É um alívio importante, mas insuficiente para fechar a distância para a média europeia.
Se queremos salários mais altos — sobretudo para os jovens —, a rota é conhecida: elevar produtividade (educação, qualificação e tecnologia), promover escala empresarial e investimento, reduzir burocracia e tornar a fiscalidade mais competitiva, assegurando mercados de habitação e trabalho mais dinâmicos. Ganhos salariais duradouros nascem de economias que crescem mais e melhor — esse deve ser o foco.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
26 de agosto de 2025