Mandato termina em Outubro, mas a decisão já está tomada. Juiz da confraria diz ser altura de “dar lugar a novas ideias e a novas caras”.

Numa primeira reação ao cancelamento das festas pelo segundo ano consecutivo, Sílvio Santos confessa que a recebeu com muita “frustração” e revela que até já havia um plano B para as festividades acontecerem de forma controlada.

Está decidido. A direção da Confraria de Nossa Senhora do Amparo, liderada nos últimos 11 anos por Sílvio Santos, responsável pela organização das festas da cidade de Mirandela, não vai recandidatar-se pelo que em outubro cessa funções, mas está em cima da mesa a possibilidade de a saída acontecer antes.

“Não é intenção do atual grupo renovar a candidatura para mais um biénio, porque entendemos que é altura deste ciclo se encerrar. Há a necessidade de surgirem novas ideias, novas caras e desejando que venham trazer mais e melhor às festas da cidade e de Nossa Senhora do Amparo e que consigam manter e ampliar a dinâmica do santuário”, refere Sílvio Santos que confessa ter sido “uma decisão difícil, mas muito debatida internamente”.

O atual mandato já tinha terminado o ano passado, mas o cancelamento das festas da cidade, devido à pandemia, levou a direção da confraria a solicitar, em assembleia-geral de confrades, a prorrogação do mandato até outubro deste ano.

Sílvio Santos nega que esta decisão esteja ligada ao facto de a Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes ter decidido, a semana passada, cancelar todas as festas e romarias populares até 30 de Setembro, inviabilizando pelo segundo ano consecutivo a romaria de Mirandela.

De qualquer forma, o juiz da confraria de Nossa Senhora do Amparo não esconde que este novo cancelamento causou um enorme sentimento de frustração no seio da equipa que lidera, até porque tinha uma espécie de plano B para as festas deste ano.

“É sempre com algum sentimento de mágoa, frustração e de tristeza que encaramos esta decisão, mesmo não contando que fosse um ano de festividades normais, seria utópico, mas admitimos que tínhamos equacionado, há alguns meses, um plano B para apresentar ao Município, em que de alguma forma assinalaríamos o período normal das festas de forma controlada, mas que infelizmente não tivemos a oportunidade de apresentar essa ideia e fomos agora completamente esbarrados com esta decisão que respeitamos e só podemos acatar porque a saúde pública está acima de qualquer outro interesse individual ou coletivo”, diz.

SITUAÇÃO FINANCEIRA COMPLICADA COM O CORTE NO SUBSÍDIO DO MUNICÍPIO

Estas declarações de Sílvio Santos, aconteceram após a assembleia-geral que, no passado sábado, aprovou as contas da confraria, relativas ao período de novembro de 2019 a outubro de 2020, que refletem um défice de 17 600 euros, mas como transitou um saldo inicial positivo de mais de 36 600 euros, o saldo final é positivo no valor de 19 mil euros.

“Este valor tem vindo a ser usado, desde essa data, para a manutenção do santuário e o pagamento dos salários das funcionárias, sendo neste momento quase zero”, adianta Sílvio Santos considerando que a situação financeira “é débil”, por não haver praticamente receitas devido à ausência das festividades e pelo consequente corte no subsídio atribuído pelo Município. Se em período normal, a autarquia atribuía 108 mil euros por ano, em 2020, a verba baixou para os 36 mil, o equivalente a 4 meses de subsídio. Para este ano a verba aprovada foi de 24 mil euros, o equivalente a menos de três meses do habitual subsídio, que ainda não foi pago pelo executivo.

“Temos a promessa de que a curto prazo chegarão algumas verbas, contudo continua a revelar muita preocupação no seio da confraria, porque a verba de 24 mil euros é claramente insuficiente. Só de custos diretos com funcionários da confraria, que é a única forma de mantermos o santuário aberto todos os dias, ultrapassam os 25 mil euros anuais. As fontes de receita estão 99% relacionadas com as festas da cidade, ora não havendo festividades complica claramente a manutenção do santuário”, acrescenta.
Sílvio Santos revela que já foi solicitado um apoio extraordinário à autarquia, mas que até ao momento não teve qualquer resposta.

Jornalista: Fernando Pires

Foto: Confraria NSA

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