Cerca de duas centenas de pessoas participaram, ontem à noite, em Mirandela, numa vigília “Por uma escola de Qualidade” organizada pela comissão de greve do Agrupamento de Escolas de Mirandela, em mais uma das muitas ações de protesto dos professores, cujas reivindicações continuam a não ser atendidas pelo Ministério da Educação nas várias rondas negociais que têm sido realizadas nos últimos três meses, a última das quais aconteceu, precisamente esta quinta-feira.

Maria Lopes, técnica especializada que leciona na área da restauração, está há 11 anos na mesma escola contratada. Explica as razões de ter participado nesta vigília. “Estou aqui porque desempenho funções de docente, tenho obrigações de docente, no entanto sou tratada como diferente e estão a propor-nos condições não docentes de 35 horas semanais, um ordenado inferior e os deveres são os mesmos que temos como os colegas que apoiamos a luta e que queremos ter os mesmos direitos”, justifica.

Céu País é professora de ciências e Biologia no ensino secundário e está perto da reforma, ainda assim também está solidária nesta luta dos seus colegas de profissão. “Estou aqui para lutar por uma carreira digna e com respeite e inquieta-me que cada vez mais os nossos alunos estão a ser prejudicados e estamos com alunos que não respeitam porque também o Estado não nos respeita e daqui a uns tempos passamos alunos sem saber ler nem escrever porque é isso o que o Ministério da Educação quer”, afirma.

Já Carlos Moura, é professor de Educação Física no agrupamento de escolas de Macedo de Cavaleiros. Entende que vale sempre a pena lutar pela dignidade da profissão e por uma escola de qualidade. “O nosso país está a precisar de gente a manifestar-se, a vir para a rua pela causa mais nobre que é o futuro de um país, porque um país mede-se pelas pessoas e não pelos bens materiais. O mais importante é que toda a população perceba a necessidade de termos uma escola de qualidade e os professores precisam mesmo de apoio, porque não temos 150 mil pessoas a manifestarem-se gratuitamente, nós precisamos de condições para poder ensinar os nossos alunos, para termos melhores cidadãos,
para que no futuro eles também possam cuidar de nós”, diz.

Rui Feliciano, da comissão de greve do agrupamento de escolas de Mirandela que organizou a vigília no parque do Império e o cordão humano na ponte Velha da cidade, mostra-se satisfeito com a adesão dos profissionais da educação e da sociedade civil. “É uma adesão muito significativa numa noite fria, temos muitos profissionais de educação, muitos pais e encarregados de educação e curiosamente temos muitos colegas de outros agrupamentos para mostrar solidariedade e vi também caras conhecidas do poder autárquico, do poder político que estão aqui connosco, pelo que é sintomático que também estão preocupados com esta situação que está a acontecer em Portugal”, refere o também delegado do STOP – Sindicato de Todos os Profissionais de Educação – que adianta que uma delegação da região vai participar, este sábado, em Lisboa, em mais uma manifestação de protesto.

“Vamos arrancar do Palácio da Justiça em direção à casa do Primeiro-Ministro e desta vez vamos ser mais enérgicos, vamos fazer um acampamento em frente à Assembleia da República para mostrar com algumas encenações as fragilidades e a revolta que estamos a sentir, nomeadamente na questão dos serviços mínimos com um atentado claro à greve, pondo em causa a própria democracia e nós queremos viver num pais democrático e queremos acreditar que Portugal do século XXI é um país democrático onde nós podemos livremente manifestar a nossa posição”, conclui.

O dirigente do STOP entende que chegou a hora do Primeiro-Ministro “chamar a si a coordenação deste processo”, por considerar que a equipa do Ministério da Educação já deu provas que não consegue resolver este diferendo.

Jornalista: Fernando Pires

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