A associação ambientalista Zero opõe-se à mina de lítio, projetada para Montalegre, por causa do impacte negativo sobre as populações locais e das “923.000 toneladas de resíduos” para as quais se “desconhece o destino final”.

Em comunicado, a Zero disse que deu um parecer negativo à mina do “Romano”, que a Lusorecursos Portugal Lithium quer explorar em Montalegre, no distrito de Vila Real, no âmbito da consulta pública do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que terminou na quarta-feira com 511 participações submetida no portal “Participa”.

Esta foi uma das maiores participações registadas naquele portal ‘online’, relativamente a projetos mineiros.

O EIA da mina de lítio para Montalegre prevê uma exploração mista, a céu aberto e subterrânea, bem como a construção de uma fábrica hidrometalúrgica (refinaria) para transformação do minério.

Em comunicado, a Zero reconheceu que, no combate às alterações climáticas, “a eletrificação da sociedade tem na tecnologia com base no lítio um importante aliado na transição energética”, contudo, frisou que “a mesma não pode justificar uma extração de recursos minerais a qualquer custo, sem que sejam devidamente acautelados os impactes sociais, económicos e ambientais”.

Nesse sentido, e no caso do projeto previsto para Montalegre, a associação realçou o “impacte da convivência da população com uma mina à qual acresce, neste caso, uma fábrica hidrometalúrgica, que irá laborar 24 horas por dia e que, dependendo da seleção de uma das duas localizações, poderá distar entre escassas centenas de metros a um quilómetro de distância dos aglomerados rurais”.

“Embora a segunda fase de exploração seja subterrânea, no início será a céu aberto, abrangendo uma área de 30 hectares, que exigirá a deposição de um máximo de 27,1 milhões de toneladas de estéreis que vão alterar por completo a orografia numa região que faz parte do sistema agro-silvo-pastoril do Barroso, classificado como Património Agrícola Mundial”, acrescentou a organização ambientalista.

A Zero referiu ainda que se trata de uma mina a céu aberto, que em “muitas questões é similar a pedreiras a céu aberto que existem nalgumas regiões do país” e onde a “convivência com as populações é tudo menos pacífica”, apontando estarem em causa “problemas com as poeiras, com o ruído de funcionamento ou até mesmo as detonações na mina”.

“Mesmo que previamente avisadas e cumprindo a lei do ruído, não deixarão de ser um fator de incómodo e stress para os cidadãos que residem nas imediações da mina ou da fábrica hidrometalúrgica”, referiu.

Salientou que, “inevitavelmente, a proliferação de minas terá um forte impacte nas características locais, assim como na imagem da região e, muito provavelmente, na própria classificação” como Património Agrícola Mundial.

Para a Zero, é “caricato constatar” que o projeto é apresentado como a solução para resolver o passivo ambiental associado à antiga exploração ali existente, pretendendo-se, agora, “instalar um depósito de inertes que poderá ter uma área com cerca de 60 hectares”.

A associação refere ainda que, ao longo dos 13 anos, durante os quais se prevê de laboração da mina, “serão produzidas 923.000 toneladas de lamas de neutralização (fábrica hidrometalúrgica) com destino a operador de resíduos licenciado, mas sem indicação do mesmo”.

“Tendo em consideração que atualmente a capacidade de receção de resíduos nos aterros industriais na região Norte é muito limitada, é com preocupação que vemos esta situação de incerteza quanto ao destino final dos resíduos, o qual não é apresentado no EIA, assim como no que respeita às emissões associadas ao seu transporte”, sublinhou.

A Zero apontou que a “sedução da criação de empregos, e sendo eles especializados, dificilmente se traduzirá num repovoar do interior”, e frisou que não “parecem devidamente acautelados os impactes sociais, económicos e ambientais”.

“Estamos em presença de um projeto que tem evidentes impactes ambientais, muitos deles cuja alegada reversibilidade é muito duvidosa, pelo que jamais se pode afirmar que estamos perante um projeto enquadrado naquilo que o governo apelida de ‘Mineração Verde’ (Green Mining)”, concluiu.

Por: Lusa

Foto: Pedro Sarmento Costa/Lusa

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