Quando a primavera surge e o calor aperta, muitos empresários de cafés, pastelarias e afins, procuram alargar o espaço comercial de atendimento aos clientes, com a instalação de esplanadas em espaço público.
Nada a criticar, antes pelo contrário. Eu próprio gosto de tomar o meu café, ou qualquer outra bebida, numa esplanada, sobretudo se estiver devidamente limpa e arrumada.
E, como eu, quando o calor aperta, muitas pessoas procuram espaços ao ar livre onde se possam refrescar e com amigos algum tempo de convívio partilhar.
Na verdade, sabe bem, estar numa esplanada, apreciar a paisagem e os movimentos que se desenvolvem possíveis de observar no âmbito do ângulo visual.
É claro que tudo isto se deve inserir num contexto social em que se procura conciliar a vida económica com os valores que nos definem, como pessoas e com a forma como nos movimentamos e deslocamos de um lado para o outro, e com os valores empresariais próprios de uma sociedade democrática livre e aberta.
A conciliação dos objetivos da vida económica/empresarial, com os valores fundamentais da nossa sociedade, e da mobilidade humana, principalmente, das crianças, das pessoas com deficiência, nomeadamente visual e motora, e dos mais idosos, deve ser entendida, para além da indispensável satisfação das necessidades de consumo, como um fator potenciador do conforto humano, transversal e harmonioso.
Ora, sendo as empresas que instalam e exploram comercialmente as esplanadas, agentes sociais nos seus próprios termos, inseridas numa comunidade perante a qual têm responsabilidades, quando fazem as respetivas instalações das mesas e cadeiras ao ar livre, devem ter em conta não só o espaço que ocupam, mas também aquele que têm obrigação de deixar livre, de modo a permitir e facilitar a mobilidade das pessoas, e dos bem que com elas transportam.
Porém, se nos detivermos a olhar para a forma como algumas esplanadas estão estruturadas, ocupando praticamente toda a dimensão de alguns passeios, depressa concluiremos que há algo que não está a funcionar como deveria, sobretudo colocando em causa a liberdade de circulação dos transeuntes, bem como o respeito pela dignidade das pessoas com dificuldades ao nível da mobilidade.
As esplanadas dão vida a uma avenida, a uma rua, a localidade, é certo. E penso que ninguém terá dúvidas sobre isso.
Porém, entendo que deveria haver muito mais cuidado, não só por parte das instituições que emitem as respetivas licenças, mas também por parte dos proprietários para que deixem o espaço livre suficiente, de modo a que seja possível, no mínimo, passar uma cadeira de rodas, um carrinho de bebé, um invisual, ou um idoso que tem dificuldades em se movimentar.
Todos nós assistimos a protestos de pessoas que vêm passeios ocupados com cadeiras e mesas, os quais não servem verdadeiramente e em primeiro lugar os objetivos para que e foram projetados e construídos.
Esplanadas, sim, mas com conta, peso e medida certa, ou seja na justa medida da área atribuída.
É que antes das esplanadas existirem, já existiam as pessoas, e a livre mobilidade destas não pode ser limitada, ou estrangulada, pela existência das outras…
Nesta como noutras áreas, não pode imperar a negligência consciente, nem o abuso evidente!…
Como diz o povo, e com razão, há limites para tudo!…
Artigo escrito por Nuno Pires