Portugal está entre os países europeus onde os jovens encontram mais obstáculos para conquistar autonomia residencial — isto é, para sair de casa dos pais e construir um projeto de vida independente. Segundo dados da OCDE (2024), 68% dos jovens portugueses entre os 20 e os 29 anos vivem ainda com os pais, um dos valores mais elevados na Europa. A combinação de salários baixos com preços de habitação e rendas elevados empurra muitos jovens para uma independência cada vez mais tardia.
Quando se olha para as restantes formas de residência nesta faixa etária, percebe-se melhor a dimensão do fenómeno: 22% vivem com o companheiro(a) ou cônjuge, 5% vivem com outros colegas de casa (jovens ou adultos), 3% vivem sozinhos e 2% vivem sozinhos, mas com filhos a cargo. Em termos simples, a maioria permanece na casa dos pais e, entre os que saem, uma parte relevante fá-lo sobretudo através da formação de casal, enquanto a vida totalmente autónoma (viver sozinho ou em casa partilhada) continua a ser minoritária.
Este padrão português aproxima-se do que se verifica principalmente noutros países do sul da Europa — Itália, Espanha e Grécia — onde a saída de casa também tende a acontecer mais tarde. Surge igualmente em alguns países de leste, como Eslováquia, Eslovénia e Polónia, sugerindo que não se trata de um caso isolado, mas de um conjunto de condições económicas e estruturais que dificultam a emancipação.

Em contraste, nos países do norte da Europa o cenário é bastante diferente: na Dinamarca, Finlândia, Suécia ou Noruega, apenas 12% a 22% dos jovens permanecem em casa dos pais. Para além de fatores culturais, estes países combinam salários mais elevados com mercados de trabalho mais móveis e flexíveis, tornando a autonomia mais acessível e menos tardia.
Mais do que uma curiosidade estatística, este indicador é relevante porque se cruza com decisões de vida: estudar fora, aceitar emprego noutra região, ter filhos, ou simplesmente iniciar a vida adulta com estabilidade. Quanto mais caro e incerto é o primeiro passo, mais tarde tende a acontecer.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
15 de dezembro de 2025

















