Por André Morais – Jornalista*

Antes de qualquer estado de sítio, já o futebol nos punha no lugar. Jogos à porta fechada enquanto a multidão proliferava com uma visão distante de uma calamidade que os chineses inventaram para depois controlarem o Mundo. Antes de qualquer teoria da conspiração, o futebol percebeu do que se tratava. Era coisa séria. Antes que qualquer outra manifestação social ou cultural o fizesse, o futebol interrompeu a competição. Antes que os municípios encerrassem estádios, as equipas deixaram de treinar. E ainda antes de o isolamento social ser decretado, já os jogadores estavam em casa. Ah, e o teletrabalho? No futebol chamaram-lhe treino domiciliário. Muito antes.

Enquanto se discutia o fecho das fronteiras, o futebol suspendeu as competições internacionais e adiou o Europeu. Os capitães dos principais rivais (Danilo e Pizzi, por exemplo) sentaram-se a uma mesa virtual um par de dias antes de Costa a juntar a oposição. E não precisaram de discutir unanimidade. Em matéria de saúde pública não há adversários. Os pavilhões colocaram trancas na porta quando as nove salas de cinemas do NorteShopping ainda estavam cheias. E o Cais do Sodré a abarrotar? Já o futebol dormia. As praias de Carcavelos? O futebol já estava à sombra.

Antes que Marcelo a declarasse, o futebol  percebeu a emergência, antecipou o caos e tem dado lições de responsabilidade, a jogar em casa, fora ou pelo caminho. E quando o país se estiver a reorganizar, já o futebol vai estar a jogar. Nem sempre uma escola de boas virtudes, há uma série de casos a que o futebol não consegue responder e das quais, invariavelmente,  sai manchado. Essa é outra discussão. Mas na resposta ao Covid-19, o futebol foi nota 20. E se foi (ligeiramente) abaixo disso, perdoem-me, mas dava mesmo jeito terminar assim.

#FiquemEmCasa

 

*  Este é um espaço de opinião e deve ser sempre entendido como tal. Jornalista de profissão há 16 anos, faço-o em exclusivo em O JOGO desde 2008, o que muito me orgulha. Nasci e resido (sempre que possível) em Vila Flor e tive funções de dirigismo desportivo local no principal clube do concelho durante 15 anos. Esta apresentação ajudará a enquadrar o que venha, futuramente, a escrever neste espaço. Comunicação e futebol, essencialmente.

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