Crónica escrita por Miguel Gomes – escritor

Quando saiu da curva e a estrada lhe pareceu mais curta, sabia que tinha chegado onde deveria. Há uma espécie de limite na cercania, o 19 de março haveria de ser o limite para a aventura forasteira, de agora em diante a miragem seria a pastagem forrageira.

Calculava com atenção os dias que faltavam, não fosse um fugir à rebeldia dos tempos recentes e deixar passar prazo ao qual se tinha acometido. Tinha saído da sua aldeia quase como foragido, à guarda do futuro calcorreara quilómetros em carrinha alheia, sem que a carteira comportasse a vida no montado, a mulher a cuidar da casa e do filho, o filho a cuidar de crescer e das brincadeiras. Chega-se rápido ao fim do mês, quando ainda que fugidos ao balcão do café, se troquem as moedas e de duas sobrem três, a conta é fácil de fazer, não é?

Atravessados montes, conhecidos e desconhecidos, sulcara a saudade entremeada com trabalhos, aqui e ali, nas consultas ao saldo bancário, pelas noites em retiro solitário, não fosse a vontade ser maior que a verdade em assumir a si mesmo: hei-de retornar para a mulher e filho.

A carpintaria de cofragem não lhe ganharia a coragem, roubar um filho à sua terra porque a modernidade assim impera, não haver o que ganhar na terra que o viu parir, ter que à língua estrangeira sucumbir, ainda que arranhando palavras num sotaque escondido atrás da genuinidade de ser quem é, receber mais do que pede porque quem acolhe sabe que a vida nos dá quem ela escolhe, e seguindo noite dentro em telefonemas díspares sabendo do filho, da patroa, “tem aprendido bem? Gosta de lá andar, na escola? E tu? Saudades? Muitas.” Sorrindo ao telefonema escondendo o embargado da voz, fez tantas e tantas vezes turnos salteados para que nunca ele e o sonho de regressar se sentissem sós.

Havia familiaridade nos subúrbios e na cidade, quem de bem vem, por bem se encontra com mais alguém, nunca faltando incentivo ao regresso, trocou muitas vezes a recordação do sino da capela a chamar para a missa de sábado ao fim do dia, pelo laboral sucesso. Que mais interessa por cá, do que abraçar aquilo que a nossa terra, ainda que pouco, nos dá?

E assim, faltando pouco para a hora de chegada, adiantou-se à vida e ela, despreparada, com o avental colado ao corpo, o cabelo sobre as frontes, o puto a brincar às escondidas com o trabalho de casa, atravessada a fronteira regressara a trás-os-montes. Entrou pela cozinha, a mulher assustada salta-lhe ao pescoço e, na perna, sem esperar melhor presente que a presença, pendurava-se o moço.

banner canal n
IMG_9798
Dizeres Populares BATATAS TAO ESTALADICAS Mirandela Braganca 730x90px
Alheiras Angelina
Banner Elisabete Fiseoterapia
Dizeres Populares TASTY ARREGUILAR OS OLHOS Mirandela Braganca 730x90px
Design sem nome (5)
Dizeres Populares BIG MAC VAI NUM AI Mirandela Braganca 730x90px
Artigo anteriorFESTIVAL “VINTE E SETE” CELEBRA O TEATRO EM VILA REAL E BRAGANÇA
Próximo artigoCOLISÃO RODOVIÁRIA PROVOCA DOIS FERIDOS GRAVES NO CONCELHO DE ALIJÓ