Os “Factos vistos à Lupa” por André Pinção Lucas e Juliano Ventura– Uma parceria do Canal N com o Instituto +Liberdade.
Menos jornais, menos pluralidade: o que revela a queda da imprensa em Portugal?
Nos últimos 20 anos, Portugal perdeu mais de metade dos seus jornais e revistas — uma redução impressionante de cerca de 60% no número de publicações periódicas. Em 2002, o país contava com 2.107 títulos registados. Vinte anos depois, em 2022, restavam apenas 840, segundo dados da Marktest com base em números do Instituto Nacional de Estatística (INE). A tendência, que a infografia +Factos ajuda a visualizar de forma clara, mostra uma erosão gradual, mas persistente, do panorama editorial português.

Esta queda não se explica por um único fator. É o reflexo de uma transformação profunda no setor dos media, que atravessa uma crise estrutural há décadas. A migração dos leitores para o digital foi apenas o início: os novos hábitos de consumo de informação — mais imediatos, fragmentados e gratuitos — colocaram pressão sobre um modelo de negócio que vivia de assinaturas e da publicidade impressa. A concorrência das redes sociais, o “fast news” e o “infotainment” vieram acelerar a perda de relevância de muitas publicações, que não conseguiram adaptar-se à lógica do clique instantâneo.
A redução drástica do número de jornais e revistas não é apenas uma questão económica — é também uma ameaça à qualidade da democracia. Menos títulos significa menos pluralidade de vozes, menos investigação local, menos escrutínio de poderes regionais e menos diversidade de temas. É nos meios regionais e locais que esta quebra é particularmente visível: muitos concelhos ficaram sem imprensa própria, tornando mais difícil acompanhar o que se passa no poder autárquico ou em instituições locais.
Portugal não está sozinho nesta tendência: a imprensa escrita enfrenta dificuldades semelhantes em todo o mundo. Mas o ritmo de perda por cá é especialmente preocupante e levanta uma pergunta essencial: como garantir um jornalismo independente, credível e de proximidade num ecossistema cada vez mais dominado pela rapidez e pela superficialidade? A resposta não é simples. Passa por reinventar modelos de negócio, apostar em conteúdos de qualidade e, sobretudo, valorizar o papel insubstituível que a imprensa livre desempenha numa sociedade aberta.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
30 de junho de 2025