Os “Factos vistos à Lupa” por André Pinção Lucas e Juliano Ventura– Uma parceria do Canal N com o Instituto +Liberdade
A saúde em Portugal está doente. Urgências encerradas, falta de médicos, dificuldades na atração e retenção de profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e centenas de milhares de portugueses sem médico de família são apenas alguns dos sintomas de um sistema sob pressão — agravados por um contexto demográfico marcado pelo envelhecimento da população.
Uma das consequências mais visíveis destes problemas é o crescimento das listas de espera para cirurgia. Em dezembro de 2024, o número de utentes à espera de uma intervenção cirúrgica atingiu os 266 mil, representando um aumento de 8% face ao período pré-pandemia (janeiro de 2020) e de 62% em comparação com junho de 2013. Estes números refletem uma tendência preocupante, com impacto direto na saúde e bem-estar dos cidadãos.
Apesar disso, o último ano trouxe uma ténue estabilização: registou-se uma ligeira descida face a janeiro de 2024, quando o total de utentes em lista de espera era de 267 mil. Ainda assim, o patamar atual continua a ser elevado e estruturalmente insustentável, exigindo respostas concretas e duradouras.

Esta realidade tem implicações profundas na vida das pessoas, comprometendo a sua qualidade de vida, capacidade de trabalho e confiança no sistema público de saúde. A sobrecarga do SNS e a gestão ineficaz dos recursos existentes são fatores determinantes para este cenário. É, por isso, urgente implementar uma estratégia multifacetada que inclua uma otimização da gestão hospitalar e a aposta em alternativas que possam aliviar a pressão sobre os hospitais públicos.
Há, contudo, um dado positivo a destacar: o número de utentes em lista de espera para cirurgia fora do tempo máximo de resposta garantido (180 dias) tem-se mantido relativamente estável desde 2018, com exceção do período da pandemia. Isto significa que a proporção de doentes que são operados dentro do prazo legal tem vindo a crescer — um sinal de que é possível melhorar o desempenho mesmo em contextos adversos.
Em conclusão, o sistema de saúde português precisa de reformas estruturais que enfrentem de forma séria os problemas de acesso, eficiência e equidade. A estabilização pontual das listas de espera não pode esconder a fragilidade do sistema. É preciso vontade política, coragem reformista e foco na dignidade dos utentes — porque uma saúde doente compromete o presente e o futuro do país.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
23 de junho de 2025