Eurico Figueiredo, figura marcante da vida política e cívica portuguesa e profundo defensor de Trás-os-Montes, faleceu este sábado, aos 86 anos, no Hospital de Santo António, no Porto, onde se encontrava internado devido a complicações associadas à gripe A.
Natural de Justes, no concelho de Vila Real, Eurico Figueiredo manteve sempre uma ligação estreita à sua terra natal e à identidade transmontana, que levou para o centro do debate político nacional. Ao longo da sua vida pública, destacou-se como uma voz firme na defesa do desenvolvimento do interior, da coesão territorial e da valorização do Douro e de Trás-os-Montes.
Professor catedrático de Psiquiatria no Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, foi também um resistente ativo ao regime ditatorial, envolvendo-se desde muito jovem nos movimentos estudantis e oposicionistas. Ainda estudante, participou na campanha presidencial de Humberto Delgado e viria a ser preso várias vezes pela PIDE, acabando por se exilar na Suíça, onde continuou a colaborar com a oposição democrática portuguesa.
Após o 25 de Abril, integrou o Partido Socialista, pelo qual foi deputado à Assembleia da República, cargo que exerceu até ao final da década de 1990. Durante esse período, destacou-se pela sua independência política e por posições pioneiras, nomeadamente na defesa do ambiente e na necessidade de incluir estas matérias na agenda política nacional.
Em reconhecimento pelo seu percurso de resistência e pela luta em prol da democracia, foi distinguido em 1997 com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, atribuída pelo então Presidente da República Jorge Sampaio.
A morte de Eurico Figueiredo motivou várias reações de pesar, incluindo do Presidente da República, que destacou a sua verticalidade, coragem cívica e contributo para a consolidação da democracia portuguesa.
Trás-os-Montes despede-se assim de um dos seus filhos mais interventivos, cuja vida ficou marcada pelo compromisso com a liberdade, a justiça social e a defesa do interior do país.
Jornalista: Vitória Botelho
Foto: DR
