Artigo de opinião escrito por Carla Barroso Reis- Enfermeira da ULS Trás-os-Montes e Alto Douro 

Era véspera de Natal e a cidade estava com um manto de luzes cintilantes e decorações típicas desta quadra festiva. É em casa que as famílias se reúnem em torno da mesa, rindo e compartilhando histórias, mas enquanto o cheiro dos pratos tradicionais pairava no ar, em minha casa, a história foi sempre bem diferente anos a fio.

Recordo aqui esta história de vida, a minha e de tantos outros Enfermeiros deste país.

Estava na cozinha, rodeada pelo meu marido, Paulo, e as minhas duas filhas, Mariana e Carolina. A mesa estava lindamente decorada, como sempre e a árvore de Natal iluminada na sala ao lado. A família foi chegando aos poucos e estava animada, ansiosa para celebrar, mas eu, sempre sobre o olhar do Paulo, olhava para o relógio com preocupação, sabia que o meu turno no hospital, estava prestes a começar e também não me queria atrasar, bem pelo contrário, pois os que lá estavam esperavam com grande ansiedade o momento de saírem para junto dos seus.

Quando a hora de despedir chegava, um silêncio pairava sempre sobre a mesa. O meu marido, para que as minhas filhas, ainda pequenas, não ficassem a chorar, dizia sempre: “Vais voltar logo, logo não é?” As minhas filhas sorriam e corriam para o meu pescoço, com a inocência de crianças que não compreendem o peso das responsabilidades de uma mãe Enfermeira. Sorria sempre, mas a minha expressão traía a verdade. “Sim, meus amores. Vou fazer o meu melhor para voltar a tempo.”

Com um abraço apertado, sempre tentei transmitir todo o meu amor e nunca me vou esquecer das palavras que as minhas filhas, mesmo hoje sendo já maiorzinhas, me dizem quando o turno do Natal me toca. “Estás sempre a ajudar as pessoas. Temos muito orgulho em ti Mãe.” Estas palavras tocam o coração, mas a dor, de quem deixa uma família na mesa numa noite tão especial, é muito intensa.

No caminho para o hospital, muitas vezes refleti sobre a vida que escolhi. A Enfermagem é uma paixão, mas o peso do sacrifício estava sempre presente.

Ao chegar ao hospital, a atmosfera é diferente. Em vez de luzes e risos, encontro rostos fechados, cansados e preocupados. O que se começa a ouvir são histórias de dor.

Num dos poucos momentos de pausa, pego sempre no telemóvel e vejo as várias mensagens das minhas crianças a abrir os presentes. Uma parte de mim queria estar ali, mas outra parte sabe que cuidando de vidas, e isso também faz parte da minha essência.

Ao amanhecer do dia de Natal, exausta, mas realizada e com a certeza de dever cumprido, finalmente volto para a família. Ao abrir a porta, sou sempre recebida com abraços calorosos e sorrisos radiantes. Tomamos sempre o pequeno-almoço em família, esquecemos que sou Enfermeira e que estive toda a noite a trabalhar, cuidando de alguém que nem sequer conhecemos. Passamos todo o dia 25 coladinhos uns aos outros, no verdadeiro espirito de natal e a… abrir as prendas que não puderam ser abertas na noite anterior.

Natal não é apenas festas e família. É também amor e o amor pode ser celebrado de muitas maneiras, mesmo quando é preciso fazer sacrifícios em nome do bem-estar do próximo.

Sou Enfermeira, considero que por isso, também sou uma privilegiada, pois posso ser Natal para alguém, todos os dias!  

Um Feliz Natal para todos

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