Falar de hortas para quem vive ou é oriundo do meio rural é um dos assuntos mais conhecidos e comuns, não só pelo seu significado material e terreno, mas também por toda a ligação afetiva que esses espaços de cultivo potenciam.
Ter uma horta e cultivá-la a jeito, com entrega, carinho e dedicação é algo que toca o coração, desponta o afeto e alimenta um certo tipo de terapia a preceito. A identidade com a “sua” horta, além de despertar e alimentar positivamente um sentimento de pertença é também um confortável refúgio para o espírito, retemperador de energias positivas, promovendo o exercício físico e a recreação em tempo de lazer. Obviamente que o lado produtivo e toda a dinâmica inerente ao arranjo e cultivo da terra, bem como ao acompanhamento do crescimento das plantas e colheita dos produtos hortícolas despertam o entusiamo saudável, que alimenta a alma e o corpo, contribuindo, também, para a independência alimentar familiar, ocupando de forma gratificante o tempo livre com alegria e calma.
Ora, se no meio rural esta ligação à horta se torna tão natural quanto vivencial, ter disponível um espaço no meio urbano, embora muito mais limitado em termos de área disponível, fomentará uma ligação afetiva ainda mais vincada.
Foi neste contexto que surgiram as hortas comunitárias, que não são mais do que espaços cujo terreno tem caraterísticas minimamente adequadas para a produção agrícola, sobretudo para a plantação ou sementeira de produtos, como alfaces, tomates, couves, espinafres, repolhos, alhos, cenouras, entre outras verduras e legumes, batatas, plantas medicinais, aromáticas, etc., podendo, ou não cumprir as normas da agricultura biológica.
Mas se a componente económica é importante, não pode deixar de ser valorizado o convívio social que as hortas comunitárias estimulam, assim como a troca de saberes e experiências no que diz respeito aos temas agrícolas, gastronómicos ou outros. Conclui-se, assim, que as hortas comunitárias acabam por representar um interessante valor económico e social ímpar no contexto urbano onde as mesmas existem.
E se os terrenos disponibilizados para estas hortas podem ser propriedade dos municípios ou de outras instituições, na cidade de Bragança o espaço das hortas comunitárias foi cedido pelo Instituto Politécnico, e não há dúvida que foi uma interessante ideia desta prestigiada instituição do Ensino Superior, a qual é reconhecida a nível nacional e internacional por razões académicas e científicas e não pelas referidas hortas. Efetivamente, as hortas do politécnico brigantino tornaram-se um elemento complementar de valorização social da instituição, representando uma “maravilha” para os “donos” e para os olhos dos que se passeiam na zona envolvente das instalações da instituição pela ciclovia ou de automóvel.
Pessoalmente, gosto imenso de presenciar aquela dinâmica potenciada pelo arranjo dos terrenos e dos tratamentos hortícolas. Além dos pequenos territórios agrícolas, o Politécnico fornece, ainda, água para regar, podendo também ensaiar experiências no âmbito da Escola Superior Agrária.
Será, neste contexto, importante referir que a maior parte da estrutura do Politécnico com as suas quatro Escolas Superiores estão instaladas numa antiga quinta agrícola que ainda hoje lhe servem de referência, ou seja, a Quinta de Santa Apolónia agora inserida no meio urbano da capital nordestina.
Ora sendo este, como certamente muitos outros pelo país, um exemplo de valorizar, será importante questionar a razão pela qual tantos espaços públicos estão por cultivar, pois poderiam ser utilizados se o estado ou os municípios os viessem a disponibilizar. E se para outra coisa essa ideia não servisse, pelo menos não seriam gastos recursos para os limpar e muitas famílias poderiam daí, em boa medida, de produtos hortícolas se sustentar.
Entre muitos outros que poderia referir na área de Bragança, não posso deixar de o fazer sobretudo em relação à antiga Quinta da Tereijinha (a que deram, indevidamente, o nome de Trajinha), agora propriedade da Câmara Municipal e a Quinta do Antigo Albergue, onde funciona uma unidade de Psiquiatria, propriedade da ULSNE. São dois espaços com potencial agrícola na envolvência urbana, onde poderiam criar-se muitas hortas com água suficiente para rega. Ou, então, rentabilizá-los de outro modo, pois da forma como estão abandonados, com erva seca e mato, sem qualquer aproveitamento, é que não servem ninguém, nem para nada, e eu pronuncio-me porque os conheço muito bem! Nos meus tempos de juventude estudantil calcorreei inúmeras vezes aqueles hectares, cujos terrenos agrícolas também lavrei.
Se é importante que os particulares limpem, tratem e cultivem os seus terrenos agrícolas, as instituições públicas têm obrigação de dar o exemplo.
Artigo escrito por Nuno Pires













