Artigo de opinião de Sara Ribeiro, Enfermeira na ULSTMAD, membro da APSAT (Associação de Profissionais de Saúde do Alto Tâmega)

Num mundo onde os avanços da medicina nos surpreendem diariamente, é fácil esquecer que, por vezes, o gesto mais simples pode ser o mais decisivo. Falo, claro, das manobras de Suporte Básico de Vida (SBV), técnicas acessíveis a qualquer cidadão e que, quando aplicadas a tempo, fazem a diferença entre a vida e a morte. O nome pode parecer técnico, mas o conceito é profundamente humano: usar as nossas mãos, literalmente, para salvar vidas.

As manobras de SBV englobam um conjunto de procedimentos básicos — como a reanimação cardiopulmonar (RCP) e a desobstrução das vias aéreas que mantêm o fluxo de oxigénio para o cérebro e outros órgãos vitais até à chegada de ajuda diferenciada. Estas técnicas têm raízes que remontam à antiguidade, mas só a partir da década de 1960 começaram a ser sistematizadas e ensinadas como práticas de emergência. Desde então, os estudos são claros: a intervenção precoce de um cidadão comum pode “triplicar” as hipóteses de sobrevivência de uma vítima de paragem cardiorrespiratória.

A eficácia destas manobras não pode ser subestimada. Segundo dados do Conselho Europeu de Ressuscitação, a maioria das paragens cardiorrespiratórias ocorrem fora do ambiente hospitalar, muitas vezes na presença de familiares, amigos ou transeuntes. Quando alguém colapsa na rua, no ginásio ou até em casa, são os segundos que se seguem que determinam o desfecho. E, na ausência de uma resposta rápida, cada minuto sem reanimação reduz as hipóteses de sobrevivência em cerca de 10%.

É por isso que urge democratizar este conhecimento. Aprender SBV devia ser um direito — e, mais ainda, um dever cívico. Ensinar estas técnicas nas escolas, nas empresas, nas instituições públicas e privadas deveria ser parte integrante de uma política de saúde preventiva e inclusiva. Não estamos a falar de formar profissionais, mas sim, de preparar cidadãos, porque um cidadão informado e capacitado é um cidadão que pode fazer a diferença, ou seja, salvar uma vida. E que gesto pode ser mais nobre do que esse?

Mais do que uma questão de saúde, saber realizar SBV é uma questão de cidadania. Ao agir, não só protegemos a vida do outro, como fortalecemos os laços de solidariedade social. Vivemos tempos de muito individualismo, contudo, são estas ações silenciosas, eficazes e humanas, que nos recordam que percebemos todos à mesma comunidade e que temos portanto, literalmente, nas nossas mãos, o poder de fazer a diferença.

“Mãos que Salvam Vidas” é, por isso, mais do que um lema. É um apelo à ação. Um convite à responsabilidade. Uma chamada à consciência coletiva. Num mundo em que tanto nos divide é importante que saibamos unir-nos por aquilo que mais importa: a vida.
Gestos simples podem fazer de nós os heróis da vida de alguém. Basta estarmos sensibilizados e preparados para aturar perante uma situação de PCR, em que cada minuto conta e as nossas mãos podem salvar!

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