Artigo de opinião de Sofia Bernardino, Enfermeira na ULSTMAD, membro da APSAT (Associação de Profissionais de Saúde do Alto Tâmega)
Concetualmente, o cancro da mama é uma doença na qual células mamárias crescem descontroladamente e formam os designados tumores. Se estes não forem controlados precoce e atempadamente podem espalhar-se por todo o corpo, conhecido por metástases. E tal como qualquer outro cancro, ocorre devido a uma interação entre fatores ambientais e um hospedeiro geneticamente predisposto.
Estudos indicam que até 2045, o número de pessoas diagnosticadas com cancro aumentará 22,5% nos países da União Europeia. O carcinoma ou cancro da mama é uma das doenças mais comuns entre as mulheres existindo em todos os países do mundo, prevendo-se que em 2045 sejam atingidos 600,704 mil casos. Pelo que é fundamental, em 2025 começar a cuidar da sua Saúde!
Indubitavelmente, é uma das doenças com maior impacto na nossa sociedade, não só por ser muito frequente e associado a uma imagem de grande gravidade, mas também porque agride um órgão cheio de simbolismo, na maternidade e na feminilidade. E a materialização da doença é traduzida na imagem corporal e todas as alterações que o corpo sofre associado aos tratamentos, na procura da cura.
Historicamente o cancro da mama é conhecido desde a Antiguidade, porém, até ao século XIX era pouco comum. A gravidez e amamentação precoces provavelmente contribuíram para a reduzida prevalência de cancro entre as mulheres que sobreviviam até à meia-idade e a maior parte das mulheres morria demasiadamente cedo para ter idade de desenvolver cancro. No entanto, a melhoria significativa da higiene e do controlo de doenças infeciosas nesse século provocou um aumento significativo da esperança média de vida e, por sua vez, o aumento do número de casos. Devido à sua visibilidade, o cancro da mama é a forma de cancro que mais frequentemente é descrita em documentos antigos. Uma vez que as autópsias eram pouco comuns, os cancros dos órgãos internos raramente eram observados na medicina da antiguidade. No entanto, o cancro da mama podia ser facilmente sentido através da pele e, em estádios avançados, muitas vezes desenvolvia lesões, tornava-se necrótico e ulcerava pela pele. Até ao início do século XX, o cancro da mama era visto como uma fatalidade sem cura. Pouco podia ser feito com as técnicas cirúrgicas primitivas, pelo que as mulheres tendiam a sofrer em silêncio e vergonha, em vez de procurar ajuda. Quando o progresso na cirurgia melhorou a sobrevivência do cancro, as mulheres começaram a consciencializar-se da doença e da possibilidade de tratamento.
Em Portugal, com 5 milhões de mulheres, foram diagnosticados em 2020 (ano coincidente com o início da pandemia) cerca de 7.000 novos casos de cancro da mama e 1.800 mulheres morreram com esta doença. O aumento de número de casos é progressivo e já em 2022, foram detetados cerca de 9 mil novos casos de cancro da mama e mais de 2 mil pessoas do sexo biológico feminino morreram com esta doença no nosso país. Estima-se que 1 em cada 7 mulheres desenvolverá cancro da mama ao longo da sua vida e aproximadamente 1% dos casos de cancro da mama ocorrem em homens. Os números apresentados, mostram a importância da deteção precoce e da prevenção no cancro da mama. O diagnóstico precoce do cancro da mama, antes de surgirem quaisquer sinais ou sintomas, é fundamental na medida em que o mesmo aumenta a probabilidade do tratamento ser mais eficaz e, em consequência, um melhor prognóstico da doença. Para além de diminuir a mortalidade, o diagnóstico precoce poderá nalguns casos evitar cirurgias mutilantes como a mastectomia radical e o uso de quimioterapia.
No entanto, existem várias medidas que podem ser tomadas para reduzir o risco de desenvolver esta doença. A prevenção do cancro da mama envolve uma combinação de fatores de estilo de vida, exame físico, rastreio regular e, em alguns casos, intervenção médica. Pequenas mudanças na sua rotina diária podem fazer a diferença na prevenção do cancro. A adoção de uma dieta equilibrada e saudável desempenha um papel crucial na prevenção do cancro da mama. Recomenda-se o consumo de frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras. Alimentos ricos em antioxidantes, como os frutos vermelhos, espinafre e nozes, ajudam a combater os radicais livres e a proteger as células do corpo.
A prática regular de atividade física é fundamental para manter um peso saudável, reduzindo assim o risco de cancro da mama. Estudos mostram que mulheres que se exercitam regularmente têm uma probabilidade menor de desenvolver a doença. Recomenda-se pelo menos caminhadas diárias e/ou 30 minutos de exercício vigoroso (de força) duas vezes por semana. Por sua vez, há evidências crescentes de que o tabagismo está ligado a vários tipos de cancro, incluindo o cancro da mama, especialmente em mulheres pré-menopáusicas. Parar de fumar ou nunca começar é uma das melhores decisões para a saúde geral e para a prevenção de várias doenças. O consumo de álcool está associado a um aumento do risco de cancro da mama. Portanto, é aconselhável limitar a ingestão de bebidas alcoólicas.
O rastreio do cancro da mama é uma medida de saúde pública, promovida pelo Serviço Nacional de Saúde, que tem por objetivo detetar atempadamente alterações da mama. O exame clínico e a mamografia são meios essenciais para um diagnóstico precoce do cancro da mama. É um tipo de tumor que pode surgir sem apresentar sintomas nas fases iniciais, por isso, estar atento a qualquer alteração física é fundamental para uma deteção precoce.
O autoexame regular das mamas pode ajudar as mulheres a familiarizarem-se com a aparência e a sensação normal das suas mamas, o que facilita a identificação de quaisquer alterações ou anomalias. Embora o autoexame não substitua o exame elaborado por um profissional, é uma prática útil para a deteção precoce, deve dedicar alguns minutos a este gesto que pode fazer toda a diferença.
O Programa de Rastreio de Cancro da Mama é dirigido a mulheres assintomáticas (que não apresentam sintomas) com idade compreendida entre os 45 e os 74 anos e consta na realização de uma mamografia cada 2 anos. Para utentes com idades inferiores aos 45 anos devem ser vigiados pelo Médico de Família e/ou Ginecologista. O alargamento ao grupo etário 45-74 anos (antes 50-69 anos) iniciou em março de 2025 e será progressivamente realizado à medida da repetição do rastreio, em cada concelho com apoio da Liga Portuguesa contra o Cancro. As mamografias são radiografias das mamas que podem detetar tumores que ainda não são palpáveis. É recomendado que mulheres com idade entre 50 e 74 anos façam mamografias de rotina a cada dois anos. Mulheres com histórico familiar de cancro da mama ou outros fatores de risco podem precisar iniciar o rastreio mais cedo e com maior frequência. A partir dos 45 anos, mesmo não apresentando alterações na mama (como por exemplo, nódulo, corrimento mamário, retração do mamilo) é importante fazer o rastreio do cancro da mama de 2 em 2 anos. Mesmo se tiver sido operado à mama deve ser feito rastreio, exceto se já teve ou tem cancro da mama ou realizou cirurgia plástica com colocação de próteses mamárias, que deverá ter outra orientação, indicada pelo médico que acompanha.
Além das mamografias, os exames clínicos das mamas realizados por um profissional de saúde são uma parte importante de rastreio. Durante o exame, o profissional de saúde verifica a presença de nódulos ou outras alterações nas mamas. Em casos de risco extremamente elevado, como em mulheres com mutações genéticas BRCA1 ou BRCA2, pode ser considerada a cirurgia preventiva. A mastectomia profilática envolve a remoção de uma ou ambas as mamas para reduzir significativamente o risco de desenvolver cancro da mama no futuro.
A prevenção do cancro da mama é um esforço multidimensional que envolve escolhas de estilo de vida saudáveis, rastreio regular e, em alguns casos, intervenção médica. Embora nem todos os casos de cancro da mama possam ser evitados, a implementação dessas estratégias pode reduzir significativamente o risco e promover uma deteção precoce, aumentando assim as possibilidades de um tratamento eficaz e uma recuperação bem-sucedida.
2025 deve começar a cuidar da sua Saúde – checklist:
Alimentação equilibrada
Praticar atividade Física
Evitar tabaco e álcool
Vacinação em dia
Cuidados com a exposição solar
Prevenir comportamentos de risco
Visitar profissionais de saúde regularmente
