Posso dizer, com muito orgulho, que pertenço a um geração que viveu uma infância feliz, no contexto de um meio rural isolado do mundo e quase só naquele mundo, com as vivências partilhadas, verdadeiramente sãs e solidárias!..

Estas circunstâncias proporcionaram-me, entre outras experiências e aprendizagens, conhecimentos preciosos nas fainas agrícolas e uma cultura social e afetiva muito especial, que ainda preservo com todo o carinho, e aquele amor intrínseco próprio de momentos muito especiais.

Vivia as vindimas com o entusiasmo e a liberdade de participar nos trabalhos e nas brincadeiras subjacentes às reuniões laborais feitas com genuíno entusiasmo, energia positiva e muita alegria.

Achava, e continuo a entender, que a Vindima será, porventura, a “Festa Maior” das fainas agrícolas. Talvez pela amenidade do clima da época, pelo colorido dos frutos e das folhas das videiras, e ainda pela “chiadeira” única e inconfundível dos carros de bois que servia de música de fundo nas viagens de ida e volta para a vinha, em uníssono com a alegria dos vindimadores e vindimadoras, além da imprescindível brincadeira da criançada, que se encarregava de animar as “hostes” com as inevitáveis tropelias.

A animação era grande, abrilhantada com as tradicionais canções populares, enquanto os preciosos cachos eram cortados, separando-os das videiras que lhe deram vida, cor e sabor, e a perspectiva dos dias seguintes com o esmagamento das uvas, feito com os pés descalços dos homens que, à partida, seriam os mais pesados e bem arremangados. Tudo isto, enquanto não surgiram os primeiros processos mecânicos, ou seja, os esmagadores puxados à manivela de uma roda grande.

A “juventude” do meu tempo e não só, certamente se lembra de uma “lição” do livro da 3.ª Classe, da então designada Escola Primária, intitulada “As Vindimas”, de Adolfo Portela, e de uns versos (cinco) com o título, “Vindimas” do livro da 4.ª classe, página 92. Da parte que me toca, recordo, perfeitamente, as leituras e as interpretações, bem como as ilustrações. A alegria e o entusiasmo eram bem diferentes, dos presentes!
Em ambos os escritos, os autores resumiam, de forma tão elucidativa quanto objetiva, todo o contexto vivencial inerente à faina agrícola das vindimas naquele tempo, de outros tempos. Recordo perfeitamente, não só o texto, mas também a ilustração que o acompanhava.
Dada a forma afetiva, impregnada de identidade e interatividade participada, como era abordada a tarefa das vindimas, este tema fazia também parte das redações que se faziam na escola. O que dava a possibilidade não só de ser retratada a vindima, como também ao imaginário de cada um, quer ao nível da escrita, quer da ilustração com que, normalmente, se complementava o texto.
As vindimas marcaram, indubitavelmente, de forma positiva várias gerações, a minha foi uma delas. Longe de ser encarada, ainda que o fosse, como uma atividade “custosa” e desgastante, era encarada como um dia de “festa”, de alegria e animado convívio.
Nesta época mais moderna, tudo se tornou mais fácil, já que mecanizado, mas penso eu, menos animado e muito menos partilhado.

As recordações, essas perduram no coração e na alma de cada um de nós, sobreviventes desses momentos inolvidáveis, tão gratos e tão preciosos!..Com um encanto que, dificilmente, voltará!..

Pensemos que volte….de uma forma diferente…mas que volte o encanto!…

Artigo escrito por Nuno Pires

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