Os factos vistos à lupa – Uma parceria com o Instituto +Liberdade (maisliberdade.pt) com o Canal N

Entre boas bases e bloqueios profundos: o retrato da competitividade de Portugal
Os dados mais recentes do Mecanismo Nacional Anticorrupção (MENAC) mostram um padrão difícil de ignorar: a esmagadora maioria das comunicações judiciais de corrupção e crimes conexos incide sobre entidades da esfera pública. Das 698 comunicações realizadas nos últimos dois anos, 51% envolvem a Administração Local, 24% a Administração Central e 15% a Administração Regional Autónoma e outros organismos sob tutela pública. Apenas 10% dizem respeito exclusivamente ao setor privado.
Entre as áreas públicas mais sinalizadas, o destaque é claro: os Municípios representam quase 40% de todas as comunicações judiciais, seguidos pelas forças e serviços de segurança (9,7%) e pelas freguesias (9,3%). Estes números revelam a elevada vulnerabilidade da administração local, onde decisões de licenciamento, contratação pública ou gestão de recursos criam zonas de risco especialmente propícias a abusos.

A exposição é grave — mas a resposta judicial também não acompanha a dimensão do problema. Um estudo do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa mostra que os megaprocessos judiciais associados a corrupção e crimes conexos demoram, em média, 8 anos e 1 mês até ao trânsito em julgado. Apenas 29% são concluídos em menos de cinco anos, enquanto cerca de 6% arrastam-se por mais de 15 anos.
Quase metade destes processos envolve precisamente criminalidade económico-financeira, aquela em que a rapidez é crucial para evitar destruição de prova, garantir confiança pública e impedir a sensação de impunidade. A morosidade crónica mina o efeito dissuasor das condenações, fragiliza a capacidade de investigação e prejudica a perceção de justiça de cidadãos e empresas.
Os números convergem numa mesma conclusão: Portugal enfrenta um duplo desafio — reduzir a exposição do Estado à corrupção e dotar o sistema judicial da agilidade necessária para a combater com eficácia.
André Pinção Lucas e Juliano Ventura
10 de dezembro de 2025


















