Artigo de opinião escrito por Luís Eleutério – Licenciado em Enologia e Mestrando em Engenharia Agronómica (UTAD)
Nos dias de hoje, vivemos um período de grande instabilidade política. Num espaço de tempo inferior a dois anos, o País vê-se envolto num ritmo eleitoral alucinante, desde as eleições antecipadas para o governo regional dos Açores em Fevereiro de 2024 às eleições Presidenciais em Janeiro de 2026, vão ser oito atos eleitorais.
Neste período de tempo, menos de 2 anos, mais de metade destes atos eleitorais dizem respeito a eleições antecipadas, uma diz respeito às regionais dos Açores e duas afetas às regionais da Madeira a que somamos duas Eleições Legislativas, ou seja, cinco em oito são eleições antecipadas.
A culpa é de quem? De todos nós, não se pode dizer que a culpa é deste ou daquele, pois “os personagens” políticos são o reflexo da sociedade em que estão inseridos, claro que existem uns que são mais “culpados” que outros, mas isso vai tanto para o bem como para o mal, não há políticos perfeitos da mesma maneira que não há seres humanos perfeitos, todos temos falhas e ainda bem que assim é.
O mais importante seria enquanto sociedade refletirmos, discutirmos e fazermos um Mea Culpa às razões que nos trouxeram até aqui e mudarmos se acharmos necessário. Claro que tudo isto seria mais fácil se não estivesse tão presente em cada um de nós o “eu é que sei” ou o “tem de ser assim” ou ainda o “tu não sabes nada”.
Estes períodos de campanha eleitoral, quase contínua, são a tempestade perfeita para ocorrem desvarios ao nível do discurso e das promessas. A luta muitas vezes parece ser para ver, quem berra mais, quem “gasta” mais, por ter mais “títulos” para a imprensa e redes sociais, não interessando “para nada” o conteúdo, a possibilidade, a utilidade, o preço a pagar e muito menos o próprio eleitorado.
As políticas que escolhemos não têm de ser todas diretamente direcionadas para a população, mas os efeitos que advêm delas devem ter sempre como objetivo a melhoria das condições de vida das mesmas. Para isso têm de ser medidas suficientemente abrangentes, ou que sejam bem direcionadas, bem percetíveis e sobretudo bem explicadas e quais serão os seus efeitos no tempo, ao nível da consequência tanto a curto, médio, e a longo prazo, todos os portugueses têm o direito de saber se essas medidas/políticas os vão favorecer/proteger ou desfavorecer/desproteger tanto no imediato, como a 5, 10 ou 20 anos, se vão ser benéficas para si mas prejudiciais para os seus filhos e netos.
Atirar umas “papaias” ao ar que parecem vistosas, bonitas, que soam bem ao ouvido não chega, é necessário que haja profundidade nos temas, nas propostas, na discussão, nos custos e também nos benefícios. Das duas uma, ou são constitucionais ou tem de existir possibilidade de acordo alargado para alterar a constituição, onde são necessários votos de 2/3 na Assembleia da República coisa que em Portugal só tem acontecido quando há imposição da CEE/UE. Não digo com isto que a constituição não esteja obsoleta em muitas matérias, claro que está, um documento redigido para as preocupações dos anos setenta do século passado é impossível que esteja adaptado e alinhado com os anos vinte e os vindouros do século atual. Mas os consensos não têm existido por isso já se sabe com que “material” se tem de trabalhar!
Aqueles três “ismos” no título deste artigo, levam a outro “ismo”, que é o Irrealismo, que levam à criação de uma ilusão que uns tempos mais tarde evolui para desilusão. E é neste estado “desiludido” que nos encontramos, muitos anos de falsas promessas, muita decisão obscura, a proliferação de pequenos ditadores, a lentidão da justiça, a total perda do brio e profissionalismo e uma enorme falta de verdade nos discursos levaram e levam a isto. Um individuo desiludo é alguém mais suscetível a cair no “conto do vigário”, no populismo barato ou pior ainda, na total indiferença ao que o rodeia.
O modelo atual de debates televisivos também em nada contribuiu para melhorar, que saudades tenho daqueles debates de 1h30 em que realmente se discutiam e aprofundavam temas, em que era mais importante conhecer a matéria, do que decorar o “chavão” que talvez cole, do que resumir/espremer uma ideia complexa e interligada a outras.
Na política nacional, mas também na local, incorre-se no ato do ataque pessoal porque não se tem mais nada a dizer, sobretudo porque se tem medo de debater o necessário, só que o necessário chateia certos “grupos” de eleitorado, ou certos
“financiadores” e então geralmente escolhem o fácil e inútil.
Apesar de termos o nosso futuro adiado quase de forma permanente, não deixem de ir às urnas votar. A abstenção não é solução, nem aqui nem em lado nenhum.
No País em que se “torra” diariamente milhões de euros em jogos de azar, pela ambição de ter mais, jogos estes que têm probabilidades ínfimas para quem lá põe o seu dinheiro, não devemos nunca deixar que outros decidam se devemos ou não ter mais!
Infelizmente Portugal está como aquele ditado, “Uma casa aonde não há pão toda a gente ralha e ninguém tem razão!”. Por isso está na hora, de lavrarmos, semearmos, tratarmos, colhermos, moermos, amassarmos, levedarmos, cozermos e finalmente de comermos o pão.
Para melhorarmos precisamos de uma politica baseada em factos, dados, estudos, programas/projetos bem sucedidos, os empirismos que por aí “populam” são como conversas de café, discussões de arbitragem e aconselhamento matrimonial no salão de cabeleireira, fazem barulho, até podem ser simplistas, ou condizentes com os nossos pensamento imediato/irrefletidos, mas falta-lhes tecnicidade, profissionalismo, análise crítica, reflexão, honestidade intelectual e tantas outras coisas necessárias a uma tomada de decisão correta e fundamentada.
Sim, isto pode mudar, pode é dar é mais “trabalho” do que aquilo que queremos, ou estamos habituados, mas ficarmos em “casa” nos dias eleitorais é desistir.
Não desistam, lutem, pois por vós nunca ninguém lutará melhor que vós próprios!
Vão às urnas e votem!