Artigo de opinião de Lídia Praça – Jurista e Vice-Presidente UHE Portugal

No ano em que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) celebra 25 anos, Carlos Vila Nova foi eleito Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe. “Terei pela frente a pacificação da sociedade são-tomense, que se encontra fraturada”, foram as primeiras palavras do novo Presidente, que também foi o vencedor em todos os círculos na diáspora. Em Portugal alcançou mais de 55% dos votos. Conheci o Engenheiro Carlos Vila Nova, em 2018, durante a realização dos jogos desportivos da CPLP em São Tomé. Era ele, então, Ministro das Infraestruturas e Recursos Naturais do governo chefiado por Patrice Trovoada. Foi a minha primeira visita àquela pérola atlântica que emerge no equador e pela qual todos os portugueses sentem um indiscritível fascínio. Foi assim também comigo!

Cerca de 3 anos depois, em abril de 2021, soube que o Engenheiro Carlos Vila Nova se tinha apresentado às eleições presidenciais, com o apoio da Ação Democrática Independente, e por essa data reencontrei-o em Bragança, onde ele se deslocou numa ação de campanha e creio não me equivocar se disser que foi o primeiro candidato a demonstrar uma séria preocupação com as condições económicas e sociais dos santomenses na diáspora. Em Trás-os-Montes encheu um auditório com jovens expectantes, ávidos de esperança e sequiosos de mensagens políticas assentes em valores socais, em nome do bem comum e transversais a toda a sociedade. Jovens que exigiam projetos sérios de transformação da sociedade e compromissos com a inclusão social e o abandono de discursos de ódio.

Acompanhei Carlos Vila Nova nessa visita à minha terra e fiquei a conhecer um pouco melhor o homem a quem os santomenses confiaram os seus destinos e que foi eleito no passado domingo Presidente de São Tomé. É um homem de aparência austera, mas cujo gesto e discurso denuncia de imediato uma singular e extraordinária sensibilidade. Sorriu, de forma idealista e visionária, quando me disse, olhando o horizonte transmontano: “Sabe que este também é o meu chão?”. Ao que eu retorqui: “Sabe que eu em São Tomé também me senti em casa?”. Na verdade, este é o grande legado do espaço lusófono e não é apenas mera retórica insistirmos e persistirmos na ideia de povos irmãos. Sim, com efeito, o bom chão transmontano é também terra do novo Presidente de São Tomé e Príncipe. Em Paredes, a poucos quilómetros de Bragança passou ele férias, na infância, em casa da família materna.

Carlos Vila Nova é um homem culto, inteligente, preparado para o exercício de cargos políticos, preocupado com a paz, a justiça social, a educação, a saúde, o bem-estar e o desenvolvimento económico do seu país. O novo Presidente de todos os santomenses elege como seu inimigo a política de ódio, de perseguição, de separação e de exclusão. Por tudo isto, e também pela minha veia transmontana, manifestei-lhe desde a primeira hora o meu apreço e admiração e foi, confesso, com enorme satisfação que recebi, já pela madrugada de segunda-feira, os primeiros resultados provisórios da segunda volta das presidenciais de STP.

Em jeito de remate, cedo à tentação de observar que são chefes de estado com o caráter do novo Presidente de São Tomé, que renovam o sonho de uma CPLP mais empenhada no aprofundamento da cooperação entre os povos nos domínios da educação, saúde, ciência e tecnologia, agricultura, justiça, cultura e desporto; bem como, a esperança numa verdadeira União dos Países de Língua Portuguesa, não obstante a sua descontinuidade territorial.

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