Artigo de opinião de Elói Gouveia Santos – Responsável de Comunicação Empresa Pública Municipal

O drama da folha em branco representa mal a confusão de ideias de quem quer escrever e não sabe sobre o quê. Acontecerá muito mais frequentemente do que julgamos. Com génios ou com pessoas (absolutamente) normais. O advérbio de modo é bem indicativo do desnorte que grassa, muitas vezes, na escolha de palavras que se tornem temas e que, por sua vez, se configurem em ideias. 

Ninguém quer aparecer em público sem opinião vincada, mesmo que seja sobre temas que não domina. Dizer algo diferente ou refrescante é vontade de todos, ainda que seja conseguido por poucos ou nenhuns. Em parte, em muito grande parte, diga-se, quem vem a terreiro escrever ou falar sobre algum assunto, espera reconhecimento.

E para isso deve – talvez -, adotar-se uma estratégia de dissonância cognitiva, que vá para além da “espuma dos dias”. 

Bem vistas as coisas, somos ou tornamo-nos demasiado monotemáticos. Há grandes acontecimentos que captam toda a atenção mediática. Seja uma pandemia, seja uma comissão para lamentar, perdão, parlamentar, seja uma conquista futebolística. Enfim, o melhor para estarmos dentro da atualidade é acompanhar as trends do Twitter.  

Sabendo de tudo isto, os interlocutores mediáticos, usam soundbytes que aumentem a probabilidade de aparecer. 

Ou seja, por um lado temos temas canibais, por outro temos criatividade na forma de os escalpelizar. E tudo isto leva a uma simplificação das análises, ao seu afunilamento e, a médio prazo, ao desinteresse por temas que mereceriam aprofundamento. 

Costuma dizer-se que deve evitar-se discutir Política, Religião e Futebol. Curiosamente, ou não, estes são dos temas que mais paixões suscitam. Então, é justo concluir-se, avaliando a expressão, que a impetuosidade dos nossos amores ou desamores influencia negativamente a troca de ideias. 

Opções estratégicas deveriam ser consideradas como “suprassuntos”. A palavra não existe, tão-pouco a realidade a que pretende incentivar. Não virá mal ao mundo através dos “suprassuntos”. 

Como se cria riqueza? Com a conversão digital que está em curso, a economia proporcionará oportunidades de emprego? As grandes cidades são sustentáveis? A globalização uniformiza e aniquila costumes? A regionalização e a descentralização seriam a concretização de valores plasmados na Constituição da República Portuguesa, nomeadamente no que concerne à Igualdade de oportunidades e no acesso aos cuidados de saúde?  

Panem et circenses, não há muito tempo os historiadores acreditavam que o pão e circo havia sido uma estratégia criada pelas elites de Roma com o intuito de distrair a plebe da situação política. 

Parece que o entendimento não é consensual. No entanto, não seria totalmente surpreendente que atualmente essa distração fosse inadvertidamente potenciada. Com os resultados que todos conhecemos: alienação, desinteresse, desconhecimento, entre outros. 

É tempo de pensar seriamente no futuro. Que os “suprassuntos” venham para ficar.”

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